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Ser diferente não é ser igual. Não é!

Para muitos, ser diferente é estimulante. Seja numa luta contra a mediocridade, seja na busca de quem verdadeiramente somos, seja na vontade de ser único. Muitas vezes implica não se encaixar numa categoria ou num grupo. É vencer preconceitos e pode ser mais estimulante do que ser o melhor. Ser diferente é sem dúvida um desafio.

Confesso que aprecio aqueles que são únicos pela arte da simbiose. Pela arte de conjugar a inteligência, com a empatia. A capacidade de ter um pensamento abstrato, mas também uma autorreflexão objetiva e ética. Compreender questões difíceis, mas saber explicar de forma simples. Ter predicados de uma elite, mas abrir as portas aos mais comuns e vulgares.

Como saberão fui deputado durante muitos anos, anos marcados por uma luta política muito dura, mas que, gradualmente, fez sedimentar a democracia, com mais tolerância e com mais respeito por quem pensa diferente. Dura porque as regras do jogo, definidas por quem mandava, eram tudo menos livres, tudo menos tolerantes. O parlamento regional é agora uma casa diferente. A regência já não manda em tudo, nem de forma absoluta. Mas, acima de tudo, porque teve uma gestão diferente, mais participada, de portas abertas à população. Os anos em que havia escândalos semanais, com polícia e expulsões, gritarias e inúmeras cenas dispensáveis, a “casa dos loucos” como foi designada, foram recentemente substituídos pelo diálogo e o compromisso. Esse é o mérito de José Manuel Rodrigues, e que ninguém lhe pode tirar.

Bem sei que há uns “Bobos da Corte” que com humor vociferam regularmente contra ele e o seu legado, talvez pelos efeitos de algum “hidromel” regional, quem sabe…

A verdade é que José Manuel Rodrigues deixa um legado marcado pela sua política de proximidade, que consubstanciou no compromisso e respeito possível entre os vários partidos. Pela abertura das portas da Assembleia Legislativa da Madeira aos cidadãos, através da realização de inúmeras iniciativas sociais e culturais. O Parlamento é um espaço que se posicionou além da atividade política e legislativa, permitindo que os cidadãos se sentissem parte integrante desta casa.

Seja pelo “Parlamento Mais Perto”, com o contacto direto com as Instituições Particulares de Solidariedade Social da Madeira, dando a conhecer o trabalho, auscultando as dificuldades e carências e diligenciando formas de apoio.

Seja pelo “Parlamento com Causas”, ciclo de conferências abertas ao público, fomentar a proximidade entre o Parlamento e os cidadãos, convidando à reflexão sobre a sociedade atual pela voz de reconhecidos especialistas, pensadores e ensaístas.

Ou pelo “Parlamento Cultural”, englobando concertos, exposições, teatro, dança, sessões de lançamento de obras literárias, debates, eventos ligados às linguagens artístico-culturais, as quais contribuíram, inclusive, para um maior aprofundamento de sensibilidades, do sentido democrático, da consciência cívica e do pensamento crítico, sobretudo junto dos mais jovens.

Seja pelo “Abraço”, a escultura de Martim Velosa em homenagem aos profissionais da linha da frente da COVID-19 ou pelo Centro de Estudos “IDEIA” para divulgar a investigação e informação sobre a Autonomia da Madeira e Porto Santo, passando pelo Prémio “Emanuel Rodrigues”, que distingue cidadãos e trabalhos que valorizem a Autonomia e a identidade regional.

Fica o “Canal Parlamento” ainda em fase de instalação, que promete novas formas de participação do público nas decisões legislativas, num cenário de transparência e democratização.

Na verdade, deixa a fasquia bem alta para o próximo regente desta casa. Fico, no entanto, curioso em saber se ele continuará este trabalho e propósito, ou se, voltaremos aos tempos antigos que presenciei. Aguardemos com serenidade.