Esclarecimentos sobre o nascimento de Jaime, segundo a sua irmã Zita
Segundo a versão de Zita, aos catorze anos de idade, ainda não menstruada, em 1949, cabe-lhe uma missão injusta a cumprir.
Tinha ido prestar um serviço, para os lados da Ajuda, passando pelas levadas, chegada a casa, sua irmã Ascensão de 20 anos, diz-lhe: “A mãe tem um menino”.
Zita estava cega de fome. O irmão ficou para depois. Precisava comer. No Restaurante Almirante, ali junto à Casa da Luz, a Empresa de Electricidade, enquanto conta a sua versão da história emociona-se. “Eu passava dois dias a dizer tudo quanto sei”, afirma.
A mãe chama Zita e mostra-lhe o menino. À medida que Zita vai revendo a vida, os olhos ficam grandes e falta-lhe a vontade de comer um bom bife, uma salada e copinho do “bom”.
A mãe ordena-lhe que escreva um bilhete. Ela era a única lá em casa que sabia ler bem e escrever.- “Escreve ao Sr. Jaime a dizer que o menino nasceu, é bonito e está bem de saúde.”
A mãe Conceição diz-lhe que se dirija à casa da Avó Maria Júlia. Estavam a favor de Conceição a tia Adelaide, casada com o irmão de Conceição – o António. Estava também a favor o tio José.
Ao lado da aliança contra Conceição estava João, o sempre solteirão, o Cravinho Almirante e a tia Adelina, a Rosa Japonesa, mais tarde empregada do Colégio de Santa Teresinha.
Zita pisca o olho para a tia Adelaide e dá-lhe o sinal que havia novidades
Cheia de medo, com o apoio simbólico da tia, diz à avó Maria Júlia:
“A mãe mandou um recado. A mãe tem um menino, quer que a avó vá vê-lo.”
“Ah sim, tenho mais um neto para acompanhar ao funeral.”
Zita, não entendia, ficou cheia de medo e então falou com a Santamaria, a gorda que morava no beco, entre a Mercearia do Porto da Cruz e a Casa dos Sousas.
Zita fala com amor da prima Mariazinha e de Santamaria que teria ajudado o menino a nascer, segundo as orientações da mãe.
De seguida era preciso falar com o Sr. Jaime e entregar o bilhete da mãe.
No Quartel, já não pestanejavam quando Zita chegava. Havia um recado. O Sargento, rapidamente chega à porta de armas e diz a Zita que a espera na Farmácia. Passam-se diversas horas, até que Jaime, mostrando algum nervosismo, fale com o homem da Farmácia. Foi feito um caixotinho, desde pensos a sabonetes, tudo estava lá dentro, talvez algum dinheiro. Era tarde, muito tarde, o Sr. Jaime tinha-se esquecido de dar o dinheiro para o bilhete do carro (transporte coletivo).
Zita estava nervosa e começou a correr. Um amigo, que lhe constava gostar da mana Ascensão, perguntou-lhe porque ia a correr.
“Tenho de ir para casa depressa e não tenho dinheiro para a camioneta”. “Olha, diz-me lá, o que tens aí no caixotinho?” “São pensos para o menino!”
“Ah, sim? Ele já nasceu!” “Sim, é bonito e está de boa saúde. Tenho de ir depressa para casa porque já é noite e o Sr. Jaime esqueceu-se de me dar o dinheiro para a camioneta.” O amigo deu-lhe o dinheiro para o transporte e recomendou-lhe cuidado.
A minha mana Zita partiu recentemente para outra margem, em breve lá estaremos. Esta é a homenagem, o tributo que faço a quem me ajudou a ser homem até à eternidade.