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Marketing eleitoral e desinformação

No próximo domingo, somos, mais uma vez, chamados às urnas para um sufrágio regional e, até outubro, lá estaremos mais duas vezes. Este ano cheio de momentos eleitorais serve de mote para me debruçar sobre a importância do marketing político e do marketing eleitoral.

Na linha de Kotler, considerado o pai do Marketing, se pensarmos na importância que o produto assume, um político apresenta-se aos eleitores como a solução para as suas preocupações e uma esperança para os seus problemas.

Assim, numa eficaz estratégia de marketing político, os partidos e os políticos devem trabalhar constantemente a sua imagem, da qual vai resultar a sua reputação e a sua capacidade de influenciar a opinião pública. Não basta focar-se no marketing eleitoral, uma subárea do marketing político que se centra no período imediatamente anterior às eleições.

Embora não estejam dissociados, a principal diferença entre o marketing político e o eleitoral é que o primeiro é um processo dinâmico, contínuo, enquanto o segundo vai concentrar-se num momento específico, numa ação de curto prazo focada na conquista de votos.

O marketing político requer ações constantes de gestão de imagem, posicionamento e narrativas sobre temas de interesse da população, atualizações permanentes nos diferentes canais digitais (especialmente nas redes sociais) e um bom relacionamento com os meios de comunicação social.

O marketing eleitoral exige pesquisa sobre resultados eleitorais anteriores, assim como uma avaliação profunda das circunstâncias e das preocupações atuais da população. Implica que, numa campanha eleitoral, haja coerência no discurso, pois, se se tenta criar uma imagem nova e desconetada da realidade do candidato, os adversários políticos podem aproveitar essa fraqueza para expor todo o tipo de incoerências. E os eleitores podem mesmo sentir-se enganados.

Então, é natural depararmo-nos, antes das eleições que teremos este ano, com diferentes estratégias de marketing eleitoral que têm como intuito orientar o nosso sentido de voto.

Infelizmente, desde que temos memória, nestas alturas pré-eleitorais, nem sempre reina a transparência, a decência ou o respeito pelo adversário. Há de tudo: cartazes com montagens e imagens manipuladas, declarações e factos decontextualizados, teorias da conspiração, perfis falsos e ‘troll’ nas redes sociais a espalhar desinformação.

Na verdade, a desinformação encontrou nas novas plataformas digitais o aliado perfeito. Notícias falsas, ‘deepfakes’ (vídeos manipulados), memes e ‘clickbaits’ (títulos sensacionalistas usados para conseguir cliques) são frequentemente utilizados para influenciar a opinião pública.

Pode ficar, desta forma, comprometida a integridade do processo eleitoral ao gerar-se desconfiança no sistema democrático, uma vez que a desinformação pode ter impactos bastante negativos, como polarização política, descredibilização das instituições e danos avultados na reputação (de um candidato e do seu partido).

Como tal, aliada a mais literacia mediática, é essencial a criação de legislação mais rigorosa que permita combater eficazmente a disseminação de desinformação, assim como a garantia de uma implementação eficaz da regulamentação existente.

Entretanto, cabe-nos a todos estar atentos, em alerta, consumindo toda a informação que nos chega pelos diversos canais de forma consciente e com pensamento crítico.