Trump ameaça Vinho Madeira?
O Presidente dos EUA anunciou, ontem, que irá impor tarifas de 200% sobre os vinhos, champanhes e outras bebidas destiladas provenientes da União Europeia
O presidente dos Estados Unidos da America (EUA), Donald Trump, ameaçou, ontem, a União Europeia (UE) com tarifas de 200% sobre champanhe, vinhos e outras bebidas destiladas se a tarifa de 50% da EU sobre o whisky norte-americano (que deverá entrar em vigor a 1 de Abril) não cair.
"A União Europeia, uma das autoridades mais abusivas e hostis do mundo em matéria de impostos e tarifas, acaba de impor uma tarifa de 50% sobre o whisky. Se estas tarifas não forem imediatamente retiradas, os Estados Unidos imporão rapidamente uma tarifa de 200% sobre todos os vinhos, champanhes e produtos alcoólicos de França e de outros países da UE", escreveu o Presidente norte-americano na rede Truth Social.
O anúncio caiu como uma bomba no sector vitivinícola, com os principais produtores nacionais a pedir a intervenção de Bruxelas, dado que os EUA são o segundo destino das exportações portuguesas de vinho.
O DIÁRIO foi tentar perceber qual o impacto nas exportações de Vinho Madeira, caso estas medidas venham a concretizar-te.
Tiago Freitas, presidente do IVBAM - Instituto Do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira, olha para as declarações de Donald Trump com “expectativa” e “apreensão”.
“Qualquer acréscimo unilateral de um preço que já está negociado entre produtores de Vinho Madeira e importadores, naturalmente que tem duas vias: ou é absorvido pelo importador ou é transportado para o cliente final”, começa por explicar o responsável.
O presidente do IVBAM escusa-se a falar em “alarme”, realçando que “o objectivo não são todos os vinhos europeus, mas sobretudo os vinhos franceses e, certamente, algum champanhe”.
Ainda assim, reconhece que “temos de estar atentos para a adição desta componente que, naturalmente, que tem repercussões no Vinho Madeira, no sector e nos ‘players’”.
Em declarações ao DIÁRIO, Tiago Freitas recorda que o Vinho Madeira é “um vinho patriótico” e “com uma carga emocional muito grande junto do mercado dos EUA”, ou não tivesse a independência americana sido celebrada com o licoroso madeirense, em 1776.
Motivos mais do que suficientes para que os EUA representem “um dos principais mercados de exportação do Vinho Madeira” e o mais relevante fora da Europa.
Por ordem decrescente, os mercados preferenciais são “Madeira, França, EUA, Reino Unido, Japão e Alemanha”, revela o presidente do IVBAM.
Mas olhemos aos números:
De acordo com os dados divulgados, a 31 de Janeiro, pela Direcção Regional de Estatística da Madeira (DREM), a comercialização de vinho da Madeira superou os 3,1 milhões de litros em 2024, o que se traduziu em receitas de primeira venda que ascenderam aos 20,8 milhões de euros, um aumento de 5,2% na quantidade, mas um decréscimo de 1,8% em rendimentos, relativamente a 2023.
Vendas de Vinho da Madeira crescem em volume, mas facturação cai
Quantidade comercializada do produto aumentou 5,2%
A maior parte das vendas – “cerca de 5 milhões de euros” – são efectuadas na Região Autónoma da Madeira, indica Tiago Freitas, precisando que o mercado regional registou "um aumento, face a 2023, de 15% no valor" e que "também aumentou no volume cerca de 10%”.
No que toca às exportações, “a França foi o mercado principal, no ano passado, com 2 milhões e 800 mil euros”.
Já os EUA representaram, em 2024, “cerca de 2 milhões e 600 mil euros”. “Estamos a falar em cerca de 210 mil litros”, releva Tiago Freitas.
Contas feitas (com base nos dados da DREM), os EUA representaram 8,5% do volume total das exportações de Vinho Madeira, em 2024 e 17,6%, em termos de valor.
No ano passado, as exportações para os EUA registaram, inclusive, um aumento relativamente ao ano de 2023, no que diz respeito ao volume. “Aumentamos 6 por cento de exportação, mas diminuímos cerca de 23 por cento [no valor]”, em virtude de “os importadores estarem (em contraciclo com aquilo que se verificou entre 2022 e 2023) a adquirir vinhos mais baratos, vinhos mais novos”, explica o presidente o IVBAM, apontando que o preço médio foi de 12,36 euros por litro.
"É, efectivamente, um mercado muito importante", reitera Tiago Freitas. Não obstante, e na mesma linha do presidente do Governo Regional, nota que para já nada está definido:
Penso que expectativa é a palavra de ordem, relativamente a estas notícias que vão saindo (…). Ainda é nada oficial. No fundo, isto são efectivamente ameaças. Nada mais de concreto se tem registado. Por isso, estamos expectantes Tiago Freitas, IVBAM
Albuquerque espera que o "excêntrico" Trump recue também na ameaça de taxar o vinho a 200%
"É péssimo", reconhece o presidente do Governo Regional