Uma crise para uma saída?
LuÍs Filipe Malheiro mede a temperatura política à campanha eleitoral
A Madeira vai e quer sair de uma crise política, desnecessária mas previsível, que, de novidade, apenas tem o facto de ter ocorrido mais cedo do que se previa, a pretexto, uma vez mais, da existência de situações que "mancham” a imagem pública de instituições, concretamente o Governo Regional.
Facto é que a justiça ainda não se pronunciou sobre nada nem ninguém, ouviu pessoas, não formalizou acusações, constituiu arguidos, primeiro passo para uma eventual acusação.
A fragilidade da situação política depois das últimas eleições, a dependência do Governo Regional de fretes políticos de partidos que vivem à espreita dos escândalos, da mentira, da propaganda falsa, das notícias inventadas, constituíam os rastilhos para que, mais cedo ou mais tarde, a crise rebentasse. Para gaudio da esquerda que, a reboque da extrema-direita que tanto diaboliza, optou pelo oportunismo, risível mas útil, de se colocar a reboque desses partidos que alegadamente diabolizam.
Destaco o problema da carência da Habitação que é preciso resolver - as políticas públicas são isso mesmo – por via da assumpção do compromisso de pugnar pela criação de condições para que comecem a surgir habitações a preços acessíveis que resolvam as necessidades dos jovens (e não só), cada vez mais desiludidos e descrentes do que a política e os partidos lhes podem dar.
Falo também da Saúde, outro tema delicado e essencial nas nossas vidas, que não pode ser "vítima" de conversas da treta e de lógicas que não sejam as de existirem as condições, financeiras ou de recursos humanos e técnicos adequados, para que responda cada vez mais eficazmente, em todas as frentes, ao que as pessoas desejam. Não se crie a ilusão de que o novo Hospital será o milagreiro de tudo isto, achando que é compatível esperar pela sua conclusão e deixar que noutras frentes, a deterioração dos serviços aconteça, que a falta de medicamentos tenha sempre uma "justificação", etc.
Lamento que o combate à abstenção não seja uma prioridade. Pouco me importam as discussões, sempre falíveis, em torno da veracidade dos cadernos eleitorais e, por conseguinte, da amplitude da abstenção. Entendo que os partidos devem apelar ao voto, independentemente de serem eles, ou não, os beneficiários. Devem fazê-lo todos os dias, em vez de andarem a “vender” demagogia enganosa e populista ou brincarem com promessas absurdas e incumpríveis, no quadro de uma descarada caça ao voto que não pode tolerar que valha tudo.
Fico com a estranha sensação de que há alguns políticos para quem estas eleições podem ser o fim-de-linha ou significar a sobrevivência perante a ameaça do fim da carreira política. Isso condiciona muita coisa desde logo, tolda a racionalidade, limita o espaço de decisão, acentua a distância entre candidatos e eleitores, tudo isto graças a uma realidade que coloca os partidos reféns de lógicas e interesses estranhos. E isso é triste.
Não sei o que vai acontecer a 23 de Março. Mas entristecer-me-á sim, se depois desse dia, não for encontrada uma solução que garanta a estabilidade parlamentar e uma solução de governação que, no mínimo, assegure o cumprimento da Legislatura, sem fragilidades institucionais. Confesso que tenho dúvidas, devido à fragmentação eleitoral regional que ainda não vai acabar nestas regionais!
Estamos num tempo de contenção financeira dos partidos, de bolsos quase vazios - valendo-lhes as subvenções públicas existentes para estas ocasiões e pouco mais – e de falta de recursos humanos que impedem que, entidades de alegado interesse público e tidas como essenciais para a democracia, vão para o terreno ouvir as pessoas, limitando-se antes ao facilitismo cómodo de emissão de comunicados a pataco, de realização de acções para aproveitamento do espaço mediático e acreditar - erradamente - que cartazes e tempos de antena vão mudar o sentido de voto das pessoas. Tenho para mim, e não abdico dessa opinião, que mais de 75% dos eleitores já sabem como vão votar e que dificilmente os mais fiéis aos diferentes partidos alterarão a sua opção.