Eleições: Farto, mas não da Democracia!
O consultor Paulo Brehm é o convidado de hoje da rubrica 'As Regionais vistas de fora'
Entre a frustração e o respeito pela democracia, a relação com as eleições nunca é simples.
Não sou o único a sentir que, em determinados momentos, se torna difícil sustentar a vontade de participar num ciclo eleitoral. A Madeira, com a sua história e importância pessoal, sempre teve um significado especialíssimo para mim. Foi aqui que vivi parte da minha juventude, fiz o então serviço militar obrigatório e construí amizades que mantêm raízes fortes. É, por isso, com pesar que observo, tal como no Continente, a crescente saturação com estas constantes chamadas às urnas.
É verdade que, mais do que nunca, se torna impossível governar sob suspeição, que nunca cessaria, inclusive alimentada pelas novas formas de comunicação que, gostemos ou não, não conseguimos controlar. A devolução da palavra ao eleitor é, por isso, na minha opinião, a única forma de reagir a um cenário em que se perde a confiança nas instituições. A democracia exige isso: dar voz ao povo, mesmo quando as opções parecem esgotadas ou a vontade de mudar se torna menor do que a de ficar afastado do processo.
E devo também dizer que não tenho linhas encarnadas. Nem sou daqueles que têm medo da mudança, quando ela efetivamente traz algo de bom para o bem superior que é o país, ou a região. Acredito que todas as opções políticas têm o direito de se tentarem afirmar, desde que com honestidade e inteligência. O importante é respeitar a vontade popular, que nem sempre será unânime, mas que deve ser respeitada. O que espero, acima de tudo, é que os debates se centrem em propostas concretas e soluções que elevem a nossa democracia, sem cair em discussões vazias e polarizadas.
No entanto, não posso deixar de lamentar o tempo já perdido com um processo que começou há muito, que já fez correr muita tinta, mas que, na prática, tem sido absolutamente inconsequente. Porquê e para quê?