Roda da fortuna
Ao longo da História, a humanidade tem sido assombrada pela Roda da Fortuna, um símbolo que nos remete à inevitabilidade dos ciclos de sorte e desgraça que permeiam a nossa existência. A roda gira incessantemente, trazendo à tona guerras, nacionalismos, populismos e graves violações aos direitos humanos. A repetição destes ciclos parece ser uma característica intrínseca ao comportamento humano, revelando as nossas fragilidades e esperanças.
No contexto europeu, preocupa-me o surgimento de retrocessos em várias áreas, incluindo a igualdade de género. Apesar dos avanços das últimas décadas, muitos países enfrentam um aumento de discursos misóginos e estratégias políticas que põem em causa os direitos conquistados pelas mulheres. Em diversos estados-membros da União Europeia, há tentativas de restringir o acesso a serviços essenciais como a saúde reprodutiva e a educação sexual. Estes atrasos representam não apenas uma ameaça aos direitos individuais das mulheres, mas também uma tentativa de reverte-los aos seus papéis tradicionais na sociedade.
O nacionalismo retrógrado surge frequentemente como resposta às crises sociais e económicas que assolam muitos países europeus. Desta forma, o populismo transforma-se numa ferramenta perigosa que utiliza o medo como forma de controlo. Em alguns países, estão a ganhar destaque partidos que promovem políticas anti-imigração, fomentando divisões étnicas e culturais entre as pessoas. Este ambiente tóxico gera hostilidade em relação às minorias e contribui para um aumento das tensões sociais.
É crucial que sejamos capazes de nos unir para romper este ciclo opressivo da Roda da Fortuna. A primeira etapa dessa transformação é reconhecer os padrões autodestrutivos do nosso comportamento coletivo e educar-nos sobre as lições do passado. É fundamental compreender que a diversidade não é uma barreira à unidade; pelo contrário, é a nossa maior força.
Avançar significa cultivar empatia e promover diálogos construtivos onde todas as pessoas possam ser ouvidas, especialmente aquelas cujas vozes têm sido historicamente silenciadas; isto inclui mulheres e minorias sociais que têm direito ao seu lugar na sociedade. O respeito mútuo deve ser o alicerce sobre o qual reconstruímos sociedades pluralistas justas.
Cuidado com aqueles que se dizem contra o sistema, mas que depois não só não apresentam soluções válidas e inclusivas para os problemas, como são apanhados nos mesmos vícios dos demais. Na verdade, a construção deste novo mundo requer coragem para desafiar essas narrativas simplistas que dividem e segregam. Se formos capazes de olhar além das diferenças superficiais e reconhecer a nossa humanidade partilhada, podemos transformar a Roda da Fortuna num ciclo virtuoso – onde a aprendizagem gera evolução constante.
“Insanidade é fazer a mesma coisa repetidamente e esperar resultados diferentes”. (Rita Mae Brown). Assim, como numa roda giratória, temos a capacidade de mudar a sua direção e evitar a repetição de ciclos perigosos, que envolvem guerras mundiais e genocídios. Para isso, precisamos romper com velhos paradigmas e abraçar um futuro onde o respeito pela diversidade seja um valor central nas relações humanas. No fim de contas, somos todas/as passageiros/as nesta complexa jornada chamada vida; cabe-nos decidir se deixaremos esta roda continuar a girar sem propósito ou se assumiremos o seu controlo, fazendo escolhas pessoais e coletivas conscientes para desenhar um futuro mais digno para todas as pessoas.