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O Futuro Invisível da Tecnologia

Hoje em dia, a tecnologia faz parte de tudo o que fazemos. O telemóvel sugere-nos notícias, as redes sociais mostram-nos o que queremos ver, e até os mapas sabem qual é o caminho mais rápido para casa. Mas será que pensamos no impacto real destas tecnologias na nossa vida?

Há uns anos, a importância dos dados na internet era o tema da moda. Basicamente, era a ideia de que, com tantos dados a circular – das redes sociais, das apps, dos sensores nos nossos dispositivos – podíamos prever comportamentos, melhorar serviços e até ajudar a ciência. Hoje, ninguém fala muito disso. Não porque tenha deixado de ser importante, mas porque se tornou tão comum que já nem reparamos. Está lá, invisível, mas indispensável.

Agora o mesmo está a acontecer com a Inteligência Artificial (IA). Ferramentas como o ChatGPT, o mais recente DeepSeek e os algoritmos das redes sociais estão por todo o lado. Mas será que daqui a cinco anos ainda vamos falar de IA como se fosse algo novo? Provavelmente não. E isso é um sinal de que se integrou no nosso dia-a-dia, tal como aconteceu com os dados digitais. Deixa de ser novidade e passa a ser simplesmente… parte da nossa rotina. Lembra-se de quando era “incrível” a Netflix sugerir filmes? Hoje, é só a Netflix a fazer o que se espera.

Contudo, há um lado importante que não podemos ignorar. Estudos recentes mostram que estas tecnologias podem ter viés, ou seja, influenciar-nos de forma subtil sem nos apercebermos. Por exemplo, se perguntar sobre temas sensíveis, como política ou questões sociais, as respostas podem refletir uma perspetiva específica. Investigadores das universidades do Reino Unido, EUA e Brasil, entre 2022 e 2024, mostraram que modelos de IA tendem a favorecer certas ideologias políticas, refletindo os dados com que foram treinados. Isto é um problema porque muitas pessoas confiam nestas ferramentas para obter informação, sem pensar duas vezes.

Agora, pense no seguinte: quando lê uma notícia, pode sempre questionar o jornalista, identificar o meio de comunicação e considerar diferentes fontes. Mas com estas tecnologias, quem é o “autor”? A resposta é um conjunto de algoritmos treinados por milhões de textos, sem um rosto, sem responsabilidade direta. E isso traz um alerta: quando uma tecnologia se torna invisível, é mais difícil manter um olhar crítico. Quem controla estas ferramentas? Como são usadas? Que impacto têm nas nossas vidas? Tanta pergunta…

O que podemos fazer até poderá parecer simples: aprender a pensar de forma crítica. Precisamos de questionar o que lemos online, tal como fazemos com as notícias tradicionais. O objetivo não é ter medo da tecnologia, mas usá-la de forma consciente. Talvez daqui a cinco anos já não falemos de IA como agora. Talvez faça parte da nossa rotina, sem darmos por isso. Mas uma coisa é certa: a tecnologia que molda o nosso presente – e o nosso futuro – não desaparece. Apenas se integra de forma tão natural que nem percebemos que está presente, a influenciar o que vemos, o que lemos e até o que pensamos. Tal como os dados digitais, que antes eram uma grande novidade e hoje fazem parte do nosso dia-a-dia de forma quase invisível, a IA vai integrar-se na nossa vida, transformando o extraordinário em algo tão familiar quanto acender uma luz ou fazer scroll no telemóvel.