O ano jubilar da Autonomia madeirense
A pouco tempo das próximas eleições legislativas regionais, os madeirenses e porto-santenses alinham-se a um novo sufrágio, na vã esperança de desbloquear o impasse provocado e mantido por Miguel Albuquerque, que incapaz de mudar os eleitores e a realidade, vai ao menos, ganhando tempo no seu “universo paralelo”, por muito que esta insana teimosia, espartilhe a nossa vida coletiva, com requintes revanchistas e adornos burlescos.
A democracia na Madeira entrou na idade crítica do climatério. Secou a cansada governação e mirrou as raquíticas oposições. E para adensar, a magna política impoluta, que na bonomia de nos facilitar o frequente voto, martelou à vigésima-quinta hora, uma lei eleitoral, para depois, doutos políticos com cátedra em Direito Constitucional, enjeitarem a solteira responsabilidade, pelo facto de o documento não poder entrar em vigor, por vício formal de “lapso de tempo”.
Em 2008 a então líder do PSD Manuela Ferreira Leite, afirmou, na saudosa governação socrática, que devíamos suspender por seis meses a “democracia”, para “por tudo em ordem”. Na Madeira, espreitamos por cima do horizonte. A democracia está suspensa há mais de um ano, e a desordem anda à solta. As sondagens vazadas, apontam para mais uma sopa aguada do PSD quebrado, que outorga imunidade, a uma requentada lista, que inclui alguns outros desesperados, que acomodar-se-ão no parlamento, findo o limite temporal do militante caciquismo municipal. A apressada fé de Ireneu Barreto na “garantia de estabilidade” que lhe foi apresentada em 2024, saiu-nos mais dispendiosa, do que as diabolizadas denúncias anónimas, enquanto exercício de uma cidadania plena, que a justiça acolhe.
O jubileu de ouro da nossa Autonomia, apresenta um PIB recordista entre turistas depauperados, assistidos por mão de obra indostânica e africana, certamente oriunda das melhores escolas de gestão hoteleira da Suíça. Todavia, mantemos uma das mais altas taxas nacionais de risco de pobreza. Perante este sucesso galáctico, sem direito a troféu ou a estampada foto a pingar narcisismo, o Governo Regional mantém oculto, o Estudo de Caracterização da Pobreza na Madeira, elaborado pela Rede Europeia Anti Pobreza, sem que se saiba, se o documento libertar-se-á do mofo, antes das eleições.
Rebentaram-se as águas da indignação, pelo crime de lesa-pátria, de um político alegadamente furtar malas no aeroporto, cobrindo de vergonha a sua comunidade local. Todavia, aqui, toleramos a perversidade da corrupção, alegadamente perpetrada pelos nossos santos de altar, que se encasulam em imunidades por eles urdidas, e ainda lhes dedicamos cega veneração entre aplausos, como que tacitamente a anuir: “continuai…à vontade!”
Não é à toa, que desde o Terreiro do Paço, somos contemplados com alguma piedade, devido às nossas idiossincrasias políticas. “A Madeira é tão tua”, mas, a sua leviana Autonomia, continua reduzida e condicionada, a um mero instrumento ao serviço de uma elite, sem que nos ruborizemos de zanga, ou de embaraço.