A União precisa de união
Trump foi eleito pela segunda vez e começou a sua presidência como alguém que teve quatro anos para pensar no que não conseguiu fazer na sua primeira, iniciando o seu termo com uma sucessão de ordens executivas, ameaçando governadores com a suspensão de financiamento federal caso não perseguissem os seus objetivos políticos e aproximando-se de Putin, enquanto afasta-se da UE com uma rapidez que faz-me pensar no kompromat ao estilo KGB.
Para quem tinha dúvidas, e não devem sobrar muitas, Trump não é bom para a Europa. A diferença entre a primeira e a segunda presidência, é que a UE tem uma guerra na sua fronteira e não diminuiu a sua dependência estratégica ao nosso aliado principal.
Da mesma forma que a nossa dependência de energia russa só foi mitigada quando já era tarde e custoso, só seremos capazes de abordar a nossa dependência em matérias de defesa quando já partimos em desvantagem.
Alguma lentidão a reagir é inerente ao funcionamento da UE, mas a pandemia demonstrou que, quando os incentivos políticos estão suficientemente alinhados entre os diversos estados-membros, é possível encontrar novas soluções para abordar novos problemas.
A primeira referência europeia a esboçar uma reação foi Mario Draghi, com o seu relatório em outubro do ano passado e com uma nova chamada de união entre os estados-membros e as instituições europeias, em fevereiro deste ano. Emmanuel Macron também demonstrou capacidade de liderança política ao convocar os restantes líderes europeus para uma convenção de emergência para discutir a segurança europeia.
A Europa, enquanto União de nações, também começou a esboçar a sua primeira reação com a iniciativa European Sky Shield, um futuro escudo antimíssil continental. Mas isto é um plano para o futuro, coisa que já sabemos que a Europa consegue fazer.
Precisamos, também, de medidas que possam ser operacionalizadas a curto e médio prazo. O Fundo de Defesa Europeu precisa de chegar ao mercado de forma expedita, com financiamento material e com projetos que tenham resultados que contribuam eficazmente para a defesa coletiva do continente europeu.
Os diversos Estados-membros terão, não só que aumentar materialmente a sua despesa com defesa, mas fazê-lo enquanto diminuem a sua dependência aos seus fornecedores de referência. O investimento em defesa não poderá ser apenas no sentido de repor stocks e formar pessoas, mas também na capacidade produtiva da União. O risco é acabarmos com um estudo da sustentabilidade ambiental da indústria de defesa mas sem novas capacidades.
Idealmente, a UE deverá começar, imediatamente, a perseguir como objetivos o fortalecimento da indústria da defesa, a redução da dependência aos EUA, a definição de uma política de defesa unificada e aumento das capacidades de defesa coletiva da União.