Media regionais já seguem maioria das recomendações do OberCom
O Observatório da Comunicação (OberCom) publicou no final de janeiro um estudo intitulado “Futuros: Eixos de inovação para os media 2024/2025”, que pretende discutir como as marcas de notícias podem inovar num novo paradigma tecnológico e comunicativo. O estudo parte dos resultados do relatório Next Gen News, que conclui que os jovens se sentem frustrados e desinteressados em relação à forma como os conteúdos noticiosos são apresentados. Uma vez que são uma “geração nativa digital”, os jovens optam por fontes de informação que lhes exijam pouco esforço na procura de informação e que produzam conteúdos num tom acessível e por vezes descontraído. Portanto, “os formatos ‘legacy’ (tradicionais) e online atuais não satisfazem a procura desta geração”.
Como tal, o OberCom apresenta “diversas ideias e recomendações que podem ajudar as marcas na criação de novos públicos e, por conseguinte, no aumento das suas receitas e ‘reach’ (alcance) em termos de mercado”. Entende que as “ideias de inovação jornalística e potenciais modelos de negócio” apresentados (…) “podem ser futuramente explorados pelas marcas de notícias”.
Destacando os aspetos mais interessantes do relatório do OberCom, pode-se tentar estabelecer uma comparação com as práticas atuais dos principais órgãos de comunicação social regionais, nomeadamente Diário de Notícias da Madeira, JM e RTP-Madeira, excluindo as rádios. A breve análise permite concluir que a maioria das recomendações já são implementadas.
O relatório sugere que, uma vez que estamos numa era digital, a convergência de formatos de apresentação de conteúdo (texto, vídeo e áudio) deve ser cada vez mais vista como uma nova realidade da indústria dos media.
Os autores destacam os benefícios do recurso a newsletters porque podem criar maior ‘engagement’, assim como a canais de WhatsApp, que permitem divulgar informações e/ou atualizações, conseguindo um maior alcance e uma garantia de proximidade com o público, sobretudo quando se recorre a um jornalista para apresentar conteúdos, o que permite criar empatia. Os principais jornais regionais já põem em prática estas medidas, nomeadamente o envio de newsletters, embora o DN-M o faça com mais regularidade. Já no que se refere aos canais, merece destaque o canal da RTP-Madeira, no qual um jornalista resume diariamente as principais notícias do Telejornal através de uma interação direta com o público.
O OberCom recomenda, também, para aproximar os utilizadores da marca e eventualmente incitar outros métodos de consumo, a disseminação de notícias através de apps gratuitas. O JM e o DN-M têm apps próprias, enquanto os conteúdos da RTP-Madeira disponíveis estão integrados na app da RTP nacional.
Outra das sugestões é a criação de ChatBots que expliquem as notícias ou deem recomendações importantes sobre as mesmas. Embora nenhum órgão regional disponibilize assistência virtual, o DN-M apresenta sempre sugestões de notícias por temáticas semelhantes.
O estudo nota que a exploração de ferramentas de IA tem um crescente potencial na indústria da comunicação social. Embora a IA não substitua totalmente os jornalistas ou até mesmo os pivots, sobretudo nos jornais regionais, já é percetível o uso destas plataformas, nomeadamente quando as informações são publicadas sem um ponto de vista pessoal de algum especialista ou sem a indicação da fonte.
Os autores do relatório sublinham a importância de utilizar “uma linguagem mais acessível e ‘entertaining’ (envolvente), que se aproxime da utilizada por criadores de conteúdos na esfera das redes sociais online”. Algo que já é posto em prática pelos media regionais que têm presença nas redes sociais, sobretudo pelo JM, que tem arriscado com ‘stories’ mais apelativos.
O OberCom aconselha à utilização de podcasts, uma vez que têm baixo custo de produção e uma boa aceitação junto dos públicos, permitindo inclusive monetização. Todos os media analisados já recorrem a este formato de conteúdo.
Finalmente, entre outras recomendações que, por falta de espaço, não são aqui evidenciadas, aconselha a uma presença mais ousada nas redes sociais, nomeadamente no TikTok e no Instagram (‘stories’), com publicações de notícias completamente adaptadas, ‘livestreams’ (transmissões ao vivo) e até o recurso a ‘influencers’ que possam difundir notícias sem mudar o seu registo. Tudo para conseguir maior aproximação ao público. Os órgãos de comunicação social analisados ainda não põem em prática nenhuma destas estratégias.
Portanto, é bastante satisfatório constatar que a maior parte das recomendações deste estudo recente do OberCom já é seguida pelos órgãos de comunicação social regionais. Bem hajam!