A Epidemia da Ignorância
Vivemos tempos estranhos.
Nunca o conhecimento esteve tão acessível e, paradoxalmente, nunca a ignorância se espalhou com tamanha rapidez. A humanidade passou séculos a lutar contra a escuridão da desinformação, mas agora, ironicamente, mergulha nela por escolha própria. A ignorância já não é fruto da falta de acesso ao saber, mas da recusa deliberada em aceitá-lo.
A ciência entregou-nos vacinas, mas a desconfiança rejeita-as. Os livros estão ao alcance de um clique, mas as teorias conspiratórias viralizam mais rápido. Os especialistas falam, mas os “especialistas de WhatsApp e Facebook...” gritam mais alto.
Assim, espalha-se a epidemia da ignorância silenciosa, contagiosa e perigosa.
Ela não se manifesta em febres ou tosses, mas sim na recusa em pensar criticamente, na adesão cega a discursos simplistas, no ódio ao contraditório. As suas vítimas não usam máscaras nem procuram cura, pois acreditam já estar imunes ao saber. E assim seguimos, vendo a ignorância ganhar espaço, fortalecida pelo algoritmo das redes sociais, pelo desprezo ao estudo e pelo conforto das verdades fáceis. Mas, diferente de outras epidemias, essa só tem um remédio: educação. Uma vacina lenta, de efeito progressivo, mas a única capaz de salvar uma sociedade à beira do colapso intelectual.
A pergunta que fica é: ainda há esperança?
A esperança existe, mas exige esforço. O conhecimento sempre enfrentou resistência - de dogmas, de interesses políticos, de puro comodismo. A diferença agora é a velocidade com que a ignorância se espalha, impulsionada por algoritmos que priorizam engajamento de likes acima da verdade.
Mas se a desinformação se propaga rapidamente, o conhecimento também pode. Educação crítica, acesso à informação confiável e incentivo ao pensamento independente são armas poderosas.
O desafio é seduzir as pessoas com o saber tanto quanto as fake news as seduzem com o escândalo.
Ainda há esperança? Sim, mas ela depende de quem se dispõe a combater a ignorância, não com arrogância ou desprezo, mas com paciência e estratégia.
José Augusto de Sousa Martins