Armamento ou desenvolvimento
Está em curso uma nova escalada armamentista. Os gastos com armamento aumentaram fortemente ao longo dos últimos anos em vários países e existe um compromisso claro — comum a muitos países, onde Portugal não foge a essa regra — de alocar mais recursos públicos ao aparelho militar. A partir de 2025 as metas para a corrida ao armamento serão ainda mais elevadas.
Há estudos recentes que alertam para os efeitos negativos de militarização intensa sobre outras dimensões do Estado — incluindo gasto social e transição ecológica. Algumas análises indicam que um forte aumento no gasto com defesa pode asfixiar outras áreas do Estado, como o Estado-social, nomeadamente, nos gastos sociais (saúde, educação, bem-estar, proteção social).
Este quadro político de prioridade armamentista, entre outros problemas estratégicos, põe em causa as possibilidades do desenvolvimento humano e social. A corrida aos armamentos faz com que a maior parte dos recursos financeiros, científicos e tecnológicos sejam desviados da solução dos problemas do desenvolvimento. Os recursos técnicos e financeiros que a indústria das armas cada vez mais mobiliza impedem a concretização de ambiciosos objetivos de progresso humano.
Carregadas de veemente profecia e da maior atualidade foram as palavras proferidas por Maria de Lurdes Pintassilgo na ONU, enquanto Primeira-ministra de Portugal, em 1979. Do seu discurso ressalta a afirmação de que a opção para o mundo nos próximos anos era desenvolvimento ou armamento. A chefe do executivo português sublinhou que não há nenhuma estratégia de desenvolvimento «que seja compatível com a atual política de corrida aos armamentos» [Fundação Cuidar o Futuro – Lurdes Pintassilgo na ONU. “A Capital” 2/10/1979. Pasta: 0046.051].
Vivíamos num contexto muito específico em que Lurdes Pintassilgo tinha sido nomeada pelo então Presidente da República, Ramalho Eanes, para presidir ao V Governo Constitucional.
Estávamos mergulhados num quadro mundial pressionado pelo dever de perspetivação de novas metas e de projetos mobilizadores capazes de futuro e geradores de esperança para o desenvolvimento dos povos.
Tal como naqueles dias da intervenção de Lurdes Pintassilgo na ONU, também hoje, é absurdo perpetuar o sistema em que o recurso à violência é norma dominante. Tal como hoje é imperioso «avançar em direção a objetivos de desenvolvimento humano, paz, segurança e equidade económica». Continua a ser urgente definir «o perfil do homem dos tempos novos capaz de justificar a esperança na construção de um novo momento na civilização humana». Mais ainda do que naquele tempo, é agora fundamental defender o direito à paz.