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São escutas, senhor, são escutas

Tenho o maior respeito pelas Forças Armadas e de Segurança, até porque durante mais de 30 anos acompanhei os trabalhos da área da Defesa Nacional. Não estive tão ligada ao Ministério da Administração Interna, por isso só ouço falar da Proteção Civil, PSP e da GNR quando há violações, coação sexual ou exploração de emigrantes.

Pensei que estava a ouvir mal quando assisti à notícia da alegada violação de um miúdo de 19 anos por onze mamíferos, perdão, bombeiros. Um dos quais reincidente na prática, mas a vítima de há uns anos teve receio de apresentar queixa. O que me apraz concluir é que os dez que também andaram a brincar às praxes gostaram, porque não se queixaram até hoje. Adiante!

Só de pensar no perigo que podem ter corrido os doentes transportados em ambulâncias por aqueles monstros, até me arrepia.

Enfim, estão proibidos de contactar a vítima e de se aproximarem a menos de 500 metros. O suficiente para serem apanhados numa esquina à noite e tropeçarem. Afinal, ao que consta, gostam do escuro e alguma alma caridosa podia fazer o favor de ter o pé estendido.

Dias depois, a Autoridade Nacional de Proteção Civil abriu um inquérito para ver se põe a andar o comandante dos bombeiros do Beato e Penha de França, em Lisboa. Outros dois elementos foram também ouvidos por suspeitas de desviar milhares de euros para contas pessoais, mas saíram em liberdade, suspensos de funções. Para mim, o dinheiro do Beato foi para a Igreja. Não é isso que fazem os beatos e as beatas?

Já tínhamos Fundão e o Beato no mapa e demos um salto a Beja. Ali para os lados de Odemira, onde há uns anos nunca tinham visto milhares de emigrantes explorados. Três civis, nove camelos da GNR e um PSP de “baixa” há mais de um ano ganhavam cada um à volta de quatro mil euros mensais às custas do trabalho de escravos do século XXI que recebiam cem e 400 euros, conforme tivessem seios ou não. Ah, mas as coisas não podem ser assim tão fáceis. Então não é que os únicos presos foram os três civis, o PSP continua doente e os dromedários da GNR voltaram ao serviço? A razão? Escutas, senhor, escutas. Não podem ser utilizadas para fundamentar as medidas de coação, porque as escutas telefónicas não foram transcritas pelo Ministério Público.

Também não duvido. Andam há dois anos a transcrever chamadas não atendidas do telefone do António Costa e, como se sabe, transcrever “tuuu, tuuu, tuuu” das seis chamadas não atendidas é uma tarefa hercúlea.

Após terem sido ouvidos em primeiro interrogatório judicial, os 11 bombeiros voluntários saíram em liberdade, mas proibidos de contactar a vítima ou de se aproximarem a menos de 500 metros.

Pelo andar da carruagem, que pelos vistos é movida a braços, daqui a dez anos estes javardos todos estarão sentados nos corredores dos tribunais à espera da justiça. O Ministério Público já terá chegado à última escuta do Costa e começa nas do Sócrates. Provavelmente, daqui a dez anos, alguém mais rápido do que a justiça já se encarregou de os lembrar com quantos paus se faz uma canoa. Nem que seja pelas arcas abaixo.