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O Natal transforma o espaço público

Vivemos hoje rotinas essencialmente motivadas por compromissos profissionais e familiares, presos em deslocações e horários apertados, sem tempo ou disposição para mais do que as obrigações do dia a dia. Mas entramos agora numa época em que o espaço público se enfeita e se torna propício a estar entre amigos, colegas ou familiares, em contemplação e convívio.

O nosso Natal madeirense convida-nos a utilizar o espaço público como forma de partilha de conversas, de histórias, de momentos passados ao longo do ano e de expectativas para o próximo. As oportunidades que isso proporcionam vão desde as tradicionais missas do parto (ou melhor, a animação do pós-missa) até aos cada vez mais frequentados mercadinhos de Natal, onde a palavra de ordem é mesmo o convívio. A verdade é que, neste mês, o espaço público ganha outra valência e as ruas passam a ser mais do que locais de circulação de automóveis, tornando-se também espaços de usufruto das pessoas, em interação umas com as outras, em cenários “enfeitados” para esse mesmo efeito.

Até parece que já existe uma competição pelo melhor sítio — seja este ou aquele município, o mercadinho de Natal ou o adro da igreja mais acolhedor para o convívio. O que importa é viver o espírito natalício, e isso sente-se nas ruas e nas praças que, por esta altura, ganham efetivamente uma nova vida.

A reflexão que faço tem que ver com a transformação do espaço público: do simples espaço de circulação para espaço de usufruto e convívio. A animação faz-se na rua e são as pessoas os atores desta transformação, obviamente incentivada pelo investimento público na iluminação característica e na animação tipicamente associada aos temas de Natal, mas que resulta essencialmente da disponibilidade que nesta época dedicamos ao convívio com amigos e familiares, ao sabor do tradicional cacau ou poncha, da sandes de carne de vinha d’alhos ou dos tradicionais doces e bolo de mel.

Tudo isto só é possível porque há espaço na rua, e porque esse espaço se “veste” a rigor, tornando-se mais apelativo para caminhar e estar. Nestes dias, ninguém se queixa de ter deixado o carro longe, pois o convívio compensa. Então, imagine-se que o espaço público — essencialmente o centro das cidades — fosse sempre tão agradável para se estar, permitindo sempre uma conversa agradável numa caminhada para ou do trabalho. Viver-se-ia com mais alegria? Seriam todos os dias Natal?