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O que nos caberá no sapatinho?

A Festa aproxima-se a passos largos na terra dos sonhos, mas de vivências apressadas e intensas, ou não fôssemos nós daqueles portugueses cuja esperança de vida é menor do que a média nacional. Ainda para mais, com a redução anunciada dos gastos com saúde, provavelmente morreremos a jogar golfe. Assim podemos contra-argumentar que a aparente desvantagem é que conheceremos a finitude em grande estilo. Por isso, anule-se pelo poder da Autonomia qualquer inconveniente!

Continuamos a ser a parcela nacional onde mais se investe ou gasta em iluminação de Natal: quase 3,6 milhões de euros, valor praticamente igual ao do ano passado. Contudo, o total nacional ascende este ano a mais de 23% do valor despendido do que em 2024, perfazendo quase 10 milhões de euros. A média seria cada português ficar com uma lâmpada na testa, mas afinal, só a cada madeirense cabe logo uma gambiarra com 14 lâmpadas!

E, porque as festas também são campanhas eleitorais, em anos de fecunda política, há candidatos presidenciais para todos os gostos, que, contudo, canibalizam todo o espectro político. São pais natais com sacos a transbordar de promessas. Por mim, atribuo credibilidade ao compromisso de um dos candidatos sobre o vinho canalizado, mas dispenso o Ferrari, por não ter mais espaço na garagem.

O Fanal após ter ficado pisoteado com aquela carga humana que tanto prémio turístico arrebata, tornou-se num ícone do quão imbecil pode ser a tutela partilhada entre turismo e ambiente, e certamente a atenta Universidade da Madeira, poderá aproveitar este endemismo parolo como um “case-study” para a sua academia, poder bradar ao mundo como NÃO se deve gerir o território. Contudo, não insistam muito no verde feito barro, senão o Governo Regional ainda transforma aquilo num “Fanal Golf Course” da nova moda reinante.

Há poucos dias assinalou-se o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Que melhor hino à hipocrisia celebrámos neste dia, quando parte desta população se vê privada do transporte às instituições onde desenvolvem as atividades, por tardar a manutenção das viaturas. O discurso da tão propagandeada “inclusão” esbarra na realidade contraditória, pois o azeite vem sempre à tona.

Para além da greve geral nacional aprazada daqui a uns dias pela CGTP e UGT, os trabalhadores do Centro de Abate da Madeira estão em luta permitindo mais uns dias de vida às reses, pois a Festa é criteriosa e segmentária. Por outro lado, longe do matadouro, há sempre relatos de maus-tratos e de abandono a animais que tão mal pincelam a nossa comunidade dita cosmopolita. Após meio século desta auspiciosa Autonomia romantizada, ainda fico impressionado com tanto retrato medieval neste assunto, numa região cujas autoridades se arrogam de terem adotado o modelo educativo de Singapura, em jeito de paraíso.

Consta que, de forma “adequada”, depois das recentes eleições autárquicas, a Secção Regional da Madeira do Tribunal de Contas emitiu um primeiro Relato de Auditoria aos Acordos ou Protocolos de Cooperação, com financiamento público, entre a RAM e privados nas áreas de apoio a Idosos e de Saúde, durante os anos de 2019 a 2021. As conclusões são potencialmente demolidoras para quem no período em apreço tutelava as várias entidades, pois são suscetíveis de originar eventuais responsabilidades financeiras. Veremos o que sairá mais, no sapatinho dos visados lá para depois do espraiar do novo ano e da recolha das canas do foguetório. Boas Festas!