Ambiente digital, consequência real
A ideia de que as redes sociais proporcionam liberdade de expressão é uma falácia, na medida em que as opiniões individuais são construídas ou reforçadas por força do algoritmo. O algoritmo não promove o pensamento crítico e livre, antes reforça, muitas vezes ao extremo, o padrão de pensamento, influenciado por conteúdos sem validação científica, perigosos e de qualidade duvidosa. Tudo isto põe em perigo as nossas democracias.
Por outro lado, à conta de uma suposta liberdade, também de escolha, esquecem-se dos danos colaterais no indivíduo, em particular nas crianças e jovens que estão em fase de construção da sua personalidade, interação social e quadro ético e, não menos importante, do desenvolvimento do próprio intelecto. As crianças e jovens estão expostos a um manancial de conteúdos, que vão desde o mais comum vídeo de aplicação de maquilhagem, até à pornografia. Esta última, já banalizada, sobretudo entre rapazes. Recomendo a visualização do documentário “Childhood 2.0.”
As redes sociais e a internet servem ainda de baby-sitter, de entertainer, de educadores, de mediadores sociais, de montra pessoal, de muitas outras coisas, inclusive, de droga, que causa dependência psicológica. Os níveis de dopamina no cérebro são de tal ordem que as tarefas banais e diárias de um indivíduo, necessárias para a sua vivência em sociedade e organização pessoal, se tornam um fardo. Os efeitos da “toma” excessiva de redes sociais no ser humano são altamente preocupantes. As escolas e os professores são dos primeiros a perceber e sentir esses efeitos.
Se não existirem medidas de proteção e segurança das crianças em relação ao uso das redes sociais, não serão, com certeza, as grandes empresas tecnológicas, com recursos ilimitados, a se preocuparem com isso.
Vários países europeus, como França, Espanha, Suécia e Dinamarca começam a inscrever na sua agenda este problema, que tem afetado a saúde mental dos cidadãos, e ponderam medidas restritivas para proteger os mais novos no ambiente digital, para o bem da sua saúde mental, mas também física e social. O governo da Dinamarca anunciou, no dia 7 deste mês, que pretende proibir o uso de redes sociais por crianças menores de 15 anos, uma das medidas mais rígidas já propostas na Europa A decisão, segundo as autoridades, procura conter os efeitos nocivos do conteúdo violento, sexual e de automutilação a que crianças têm sido expostas nas plataformas.
Deixo, então, a pergunta. Não é hora da Europa assumir este assunto da dependência digital como um problema de saúde pública e tomar medidas concretas de maior proteção e segurança das nossas crianças e jovens?