Maioria das associações portuguesas no Reino Unido sem acesso a apoios do Governo
Só duas em cerca de 50 associações portuguesas no Reino Unido estão credenciadas para poderem receber apoios do Governo português, processo que vários dirigentes consideram difícil.
Uma das fundadoras da Lusconnectionuk em 2022 em Manchester, Lisa de Pina, afirmou à agência Lusa que fez questão de informar o consulado da sua existência e que entregou os documentos pedidos há vários anos.
"Continuamos à espera. É um pouco desmotivante", confiou, à margem do 1.º Congresso das Associações Portuguesas no Reino Unido, que decorreu hoje em Leicester.
Também o presidente da recém-formada Associação Portuguesa de Leicester, Jorge Conde, revelou que, apesar do diálogo com o consulado, descreve a frustração com "entraves há vários meses".
"Eu gostava que fosse assim mais fácil, nós queríamos mesmo estar integrados com Portugal. A intenção nunca foi aceder a fundos portugueses. É mais em termos burocráticos, para ter um acesso mais direto e rápido a informação e, no futuro, podermos criar aulas de português", vincou.
Para poder apresentar candidaturas a apoios financeiros, as associações portuguesas na diáspora têm de estar credenciadas junto da Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas (DGACCP).
Este reconhecimento implica a apresentação do ato de constituição e respetivos estatutos e do registo junto das autoridades do país onde está sediada.
Os organizadores do evento revelaram ter identificado 49 associações portuguesas no Reino Unido ativas, mas só duas estão credenciadas, o Centro Comunitário Português e o Grupo Cultura Popular.
O presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas na Europa, Vítor Gabriel Oliveira, elogiou "os sucessivos governos pelo aumento das subvenções" para as associações de emigrantes, mas também reconheceu que o nível de exigência subiu.
"É importante que as associações aumentarem o nível de profissionalização", explicou, exortando as associações a persistirem no processo de credenciação junto dos consulados.
O 1.º Congresso das Associações Portuguesas no Reino Unido reuniu no sábado dezenas de dirigentes associativos numa tentativa de criar uma rede associativa luso-britânica e reforçar a cooperação entre entidades comunitárias e institucionais.
Organizado pelo jornal As Notícias, incluiu painéis temáticos sobre enquadramento legal, fiscal e institucional das associações, sobre ferramentas de formação e capacitação de dirigentes, sobre ação social e apoio comunitário e sobre apoios financeiros e sustentabilidade das associações.
Lisa de Pina, da Lusoconnectionuk, disse à Lusa que o evento foi importante para conhecer e criar ligações com outras associações portuguesas, pois a associação já está registada junto das autoridades britânicas.
"Os vários projetos culturais e desportivos que fizemos tiveram financiamento do Reino Unido. Estamos aqui para tentar perceber como é que podemos obter ajuda de Portugal", revelou.
O presidente da Associação Recreativa UK, criada em 2017, Domingos Cabeças, reconheceu que "é vantajoso participar e conhecer as regras", mas a associação não está registada nem em Portugal nem no Reino Unido.
"Enviamos os estatutos e o regulamento ao consulado, mas nunca fizemos mais nada. Nunca nos candidatámos a fundos porque a gente não tem muito tempo", justificou.
As atividades, essencialmente lúdicas, como festas de Natal ou do São Martinho, são financiadas com as receitas das mesmas.
"Não movimentamos grandes dinheiros, por isso não já interesse em estar registado", disse.
Pelo contrário, o clube Lusitanos FC beneficiaria de algum apoio financeiro porque "a equipa de futebol dá muita despesa, só com essas ajudas é que conseguimos chegar a um nível alto", disse o dirigente Manuel Ferreira.
Criado em 1977, o clube foi reabilitado há três anos pelo filho e sobrinho.
"A cultura portuguesa é transmitida no clube. O meu filho escreve mensagens nas redes sociais em português, primeiro, e depois em inglês. O futebol aproxima os portugueses", afirmou.
Para Sofia Martinho, presidente da Associação de Professores e Investigadores de Língua Portuguesa no Reino Unido (Tropo UK), a presença não foi necessariamente procurar ajuda das autoridades portuguesas, mas passar a mensagem de que vale a pena fazer uma licenciatura em língua portuguesa.
A professora na Universidade de Leeds revelou que 95% dos seus alunos são britânicos e que raramente tem alunos falantes ou descendentes de falantes de língua portuguesa.
"Sinto que é muito importante falar com as associações que estão no terreno e que estão em contacto com essas comunidades falantes de língua portuguesa para que a mensagem chegue (...) que é possível fazer uma licenciatura, por exemplo, em política e português, relações internacionais e português, história e português", disse à Lusa.
Além de um 2.º Congresso, os organizadores estão já a preparar uma Plataforma das Associações Portuguesas no Reino Unido para dar apoio jurídico, na área da contabilidade e assistência na candidatura a fundos tanto a Portugal como no Reino Unido.
O diretor-executivo do jornal As Notícias, Joe Barreto, espera que, com aconselhamento profissional, mais associações poderão conseguir a credenciação junto da DGACCP.
"Eu acho que é a falta de conhecimento e falta de informação. Portanto, nós vamos proporcionar que essas organizações tenham o apoio necessário para que possam ficar registadas", garantiu.