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A Guerra Mundo

Proposta dos EUA para acordo de paz deixa população insatisfeita

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Foto Shutterstock

O diretor do Instituto Internacional de Sociologia em Kiev, Anton Grushetsky, defendeu esta sexta-feira que muitos ucranianos aceitarão difíceis cedências num muito desejado acordo de paz, mas que a maioria rejeita termos como a cedência de territórios prevista na proposta norte-americana.

Em declarações à EFE, Grushetsky indicou que mais de 70% dos ucranianos recusam-se a ceder a parte da região do Donbass (leste) que a Rússia não conseguiu conquistar, e que reclama no âmbito de um acordo de paz.

Uma maioria, referiu ainda, aceitaria um congelamento dos combates ao longo da linha de contacto se os territórios conquistados não forem reconhecidos como russos e se os aliados da Ucrânia fornecerem garantias de segurança claras e a perspetiva de adesão à União Europeia.

O Governo de Kiev prometeu trabalhar "construtivamente" com base no novo plano de paz, mas nas ruas das cidades ucranianas, é percetível a oposição popular a alguns dos termos da proposta de acordo, segundo a EFE. 

Irina Kolbasova, de 49 anos, deslocada de Mariupol (sul da Ucrânia), manifesta anseio pelo fim da guerra, "mas não ao preço de permitir que o agressor (Rússia) fique com parte do país e lhe chame 'paz'".

"Não vejo paz neste 'plano de paz'. Ele simplesmente dará ao inimigo um alento para que possa voltar a atacar", afirmou à EFE, referindo-se à proposta de reduzir o tamanho do exército ucraniano e deixar impunes as agressões e os crimes russos.

O filho de Kolbasova, Volodymyr, um soldado de 25 anos, foi capturado em 2022 durante o cerco russo que destruiu grande parte da sua cidade, e desde então nunca recebeu notícias suas, em violação da Convenção de Genebra.

"Como se pode chegar a um acordo sincero com aqueles que não reconhecem qualquer lei ou convenção, nem sequer o valor da vida humana?", questionou.

"Não sobreviveremos sozinhos. (...) Alguns países ainda nos apoiam com armas, palavras e a verdade. Juntos, podemos não só sobreviver a esta guerra, como também levá-la a um fim justo", declarou. 

O plano da Casa Branca corresponde às principais exigências russas, ao prever que Kiev retire as suas tropas das áreas que ainda controla no Donbass, região no leste do país que inclui as províncias de Lugansk e Donetsk, uma substancial redução do seu efetivo militar e a renúncia à adesão da NATO, em troca de garantias de segurança para prevenir uma nova agressão russa.

Daria Bakun, uma pintora de 24 anos de Dnipro (centro) defendeu à EFE que "o plano é claramente parcial a favor da Rússia e pressiona a parte mais fraca".

O objetivo do plano não é garantir um fim real à guerra e trazer segurança à Ucrânia, mas sim "impulsionar a reputação de Donald Trump",Presidente norte-americano, disse Bakun.

Segundo a jovem, cuja casa foi danificada por um 'drone' russo na primavera passada, os ucranianos já não acreditam na utilidade de vagas "garantias de segurança" como as mencionadas no plano divulgado, após o Memorando de Budapeste não ter conseguido impedir a invasão russa.

Este memorando, pelo qual a Ucrânia renunciou às suas armas nucleares em 1994, foi assinado pelos Estados Unidos, Reino Unido e Rússia. 

"Por mais cansados que os ucranianos estejam, penso que a maioria rejeitaria este plano, que equivale a uma capitulação", disse Bakun.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, confirmou um ultimato ao homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que aceite o plano de paz da Casa Branca até quinta-feira, Dia de Ação de Graças.

O jornal The Washington Pos já indicara aquele prazo, sob ameaça de Kiev perder o apoio dos Estados Unidos. 

Questionado sobre a possibilidade de o Presidente russo atacar outros países europeus no futuro, Trump manifestou a sua convicção de que Vladimir Putin "não está à procura de mais problemas" e que aprendeu a lição de uma guerra "que deveria ter durado um dia e já dura há quatro anos".

Destacou ainda que esta sexta-feira entraram em vigor novas sanções norte-americanas contra as duas maiores petrolíferas russas, Rosneft e Lukoil, que descreveu como "muito poderosas".

A presidência russa indicou que ainda não recebeu oficialmente a proposta dos Estados Unidos, mas advertiu que o líder ucraniano deve negociar o fim da guerra, sob pena de perder mais territórios.

Zelensky falou hoje também por telefone com os líderes alemão, francês e britânico para se assegurar de que as posições de princípio de Kiev têm o apoio europeu.