Novos pobres, uma realidade crescente!
Todos nós apercebemo-nos que a “vida” está cada vez mais cara. Desde a pandemia da COVID, e depois com a guerra na Ucrânia, que os preços dos bens alimentícios aumentaram e continuam a não parar de subir. E não são subidas mínimas. São aumentos significativos com impacto grande no rendimento das famílias. Esta realidade está a gerar uma nova classe de pobres – de trabalhadores que lutam pela vida, esforçam-se, mas cujo ordenado cada vez é mais insuficiente para garantir a sua sobrevivência e da sua família com qualidade de vida. Sobretudo da classe média. Alguém tem de pôr um travão a esta escalada de preços.
A cada mês, a alimentação está cada vez mais cara e, a este ritmo, qualquer dia não temos nem para comer. Vivemos uma sociedade de mercado livre, mas torna-se imperativo uma melhor regulação. É inaceitável que os portugueses estejam a pagar cada vez mais para comer saudavelmente. Não estamos a falar de comer caviar, ou de beber champanhe.
Os preços aumentam constantemente e não venham com a justificação de que aumentaram os custos e, por isso, tiveram de aumentar os preços. Se assim fosse, as grandes cadeias alimentares não apresentavam, ano após ano, lucros de vários milhões de euros.
Agora, também virou moda a espada acima dos 7,50 euros. E muito frequentemente chega a quase 10 euros. Inaceitável quando temos peixe armazenado no entreposto frigorífico. E é a espada e outras espécies de peixe com preços elevados. Da mesma forma, a carne teve também um aumento generalizado, passando quase para o dobro. E as verduras e frutas estão cada vez mais caras.
O governo tem de intervir. Não para agir como agente estabelecedor de preços, mas para evitar especulação e concertação de preços no sector alimentício. Sabemos que os aumentos de preços na carne, no peixe e produtos hortícolas e frutas não beneficiam nem os produtores, nem os pescadores. Beneficiam sobretudo os intermediários e o povo paga com o cinto cada vez mais apertado no estômago.
Se numa ação concertada entre todos os consumidores, se deixasse de comprar produtos a determinados preços elevados, o próprio mercado entrava em equilíbrio, pois forçava-se à descida de preços. Mas, se há um que não compra, outro compra. E assim se fomenta o aumento generalizado de preços.
Não podendo comer saudavelmente, as famílias, para enganar a fome, mudam a sua alimentação para outros produtos que saciam a fome, mas não necessariamente nutrem o corpo de forma saudável.
A este ritmo, qualquer dia comemos apenas pão e massa. Já não bastava a crise na habitação, agora estão cada vez mais insustentáveis os preços para uma alimentação saudável. Se nada for feito, haverá proximamente uma queda acentuada na qualidade da alimentação das pessoas o que terá consequências graves na saúde da população no futuro. E, consequentemente, aumentarão os custos na saúde.
Esta semana, um estudo sobre a saúde das crianças e jovens portugueses demonstrou que cada vez mais cedo registam-se casos de tensão arterial alta nos mais novos com necessidade inclusive de prescrição medicamentosa para controle de tensão alta. Isto para não falar da diabetes que cresce na população e, sobretudo, nos grupos etários mais jovens.
A realidade é que a vida está difícil para um número cada vez maior de pessoas. E quando surgem complicações de saúde, a vida complica-se muito mais. Gastos extra de consultas médicas de especialidade, exames e tratamentos estão caros e o dinheiro escasseia. Mesmo os licenciados enfrentam dificuldades de dinheiro. São os novos pobres!
O aumento do salário mínimo é importante para a sobrevivência das famílias com rendimento mensal mais baixo. Mas, a classe média está a ficar estrangulada com dificuldades, sobrevivendo como podem. Todos estão a empobrecer a cada dia que passa. E onde está o prémio do mérito pelo esforço realizado?
Um gasto que considero desnecessário e totalmente injusto que poderia muito bem ser revogado são as taxas mensais de manutenção de contas bancárias. Surgiram para fazer face às descidas das taxas de juro e às dificuldades bancárias do momento. Se bem se lembram, quando implementaram esta medida era suposto ser uma medida temporária e o temporário virou definitivo. Será que se justifica a existência destas taxas face à situação atual? A divulgação de lucros anuais da ordem dos milhares dos milhões de euros dos vários bancos faz-me duvidar muito da necessidade deste custo pessoal.
É preciso repensar os custos mensais das famílias. Dificuldades financeiras exigem análise dos custos existentes e procurar onde se pode cortar.
Taxa daqui, taxinha dali, seguro daqui, seguro dali, descontos para aqui e ali , impostos daqui e dali, aumento de preços daqui e dali e quando se olha ao dinheiro disponível até dá dó. Os rendimentos familiares estão cada vez mais parcos para as suas necessidades. O futuro, a continuar assim, será bem negro.