Republicar nova lei eleitoral da Madeira é um “entorse a vários princípios fundamentais”
Constitucionalista Vitalino Canas "não acredita que alguém esteja a pensar nisso"
O constitucionalista Vitalino Canas considera que não há
qualquer possibilidade, do ponto de vista legal, de o Presidente da República
voltar a publicar a nova Lei Eleitoral da Madeira, aprovada por unanimidade na
Assembleia da República, em formato de suplemento no Diário da República.
A hipótese foi ontem ventilada em diversos meios políticos regionais como resposta ao “lapso de tempo” invocado por Marcelo Rebelo de Sousa ao justificar publicamente a não publicação da nova lei orgânica antes do decreto de dissolução da Assembleia Legislativa da Madeira.
"Lapso de tempo" na publicação da Lei Eleitoral "está a ser tratado"
Marcelo vinca que objectivo era que a lei já se aplicasse nestas Regionais
Andreia Dias Ferro , 28 Janeiro 2025 - 13:18
“Isso, em meu entender, seria um entorse a vários princípios fundamentais do Estado
de Direito e uma fraude tão evidente à Constituição que não acredito que alguém
esteja a pensar nisso”, sublinha Vitalino Canas em declarações ao DIÁRIO.
A publicação da Lei n.º 1A/2025 aconteceu ao fim da tarde da última segunda-feira,
dia 27 de Janeiro, em Diário da República. Entrou em vigor um dia depois, 24h
após o decreto n.º 18A/2025 do Presidente da República, que dissolveu o
parlamento madeirense.
Para ser aplicada nas próximas eleições, agendadas para 23 de Março, a lei
tinha de ter sido publicada antes da dissolução da Assembleia. Como tal não
aconteceu e de acordo com os constitucionalistas ouvidos pelo DIÁRIO e pela própria
Comissão Nacional de Eleições, o próximo escrutínio vai realizar-se sob a égide
da antiga lei eleitoral, que não prevê o voto antecipado em mobilidade, nem impõe
a paridade nas listas de candidatos a deputados, nem a existência de boletins
em braille. O que na prática impossibilita uma maior participação no acto
eleitoral.
Conselho de Estado
Ontem o Presidente da República atribuiu ‘culpas’ pelo
atraso na publicação da lei ao primeiro-ministro, que tinha de referendar o
diploma, durante o fim-de-semana. Apesar do imbróglio político e constitucional,
Marcelo assegurou que estava a ser “tratada” uma solução para resolver o que
denominou por “lapso de tempo”.
Hoje o tema deverá de ser abordado por iniciativa de Miguel Albuquerque que vai
participar no Conselho de Estado, convocado pelo Presidente da República e onde
vai participar Mário Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu.
O presidente do Governo e líder do PSD-M pediu ontem a resolução do “impasse” criado
em Belém.
A vingar a tese do constitucionalista Vitalino Canas não haverá qualquer
alteração e a Madeira vai mesmo a votos com a lei antiga.