O que é o populismo?
“Populismos”, “ideias populistas”, “partidos populistas”. A palavra populismo entrou no léxico corrente do discurso político, sendo, regra geral, utilizada como ‘arma-de-arremesso’, de forma pejorativa. Mas, afinal, o que é o populismo?
POLÍTICA doutrina ou prática política que procura ganhar vantagens com o apelo a reivindicações ou preconceitos amplamente disseminados entre a população, geralmente fazendo a distinção entre dois grupos antagónicos: um, virtuoso e maioritário – o povo – que exalta e diz defender; outro, minoritário e apontado como fonte dos problemas gerais, que pretende combater;POLÍTICA doutrina ou regime, geralmente de carácter paternalista, assente na ideia de que a liderança política deve ser exercida em estreita ligação com o povo, sem a intermediação de partidos; Infopédia
Em Ciências Políticas, o populismo baseia-se na ideia de que a sociedade está fracturada entre dois grupos, os ditos “bons” e os ditos “maus”; o povo e os corruptos. Esta ideia é partilhada pelo especialista Cas Mudde, na sua obra ‘Populismo: Uma Brevíssima Introdução’, onde explica que o populismo defende que a política deve ser a expressão da vontade popular.
Mudde considera, mesmo, que o populismo é uma ideologia incompleta, tendo em conta que aborda apenas uma parte da agenda política, abstendo-se de vincar qual será o melhor sistema político e económico. É comum, portanto, que os populistas combinem esta com uma outra ideologia.
Já segundo Benjamin Moffitt, professor de política na Australian Catholic University, um populista fala em nome das pessoas e identifica a elite como o problema essencial da sociedade. O fenómeno pode manifestar-se como uma ideologia, um modo de organização, ou em discurso, mas todos esses formas focam a divisão entre nós e eles.
O populismo costuma ser associado à direita radical, mas existe também o populismo de esquerda, como é exemplo o antigo líder da Venezuela Hugo Chávez. Jan-Werner Müller, professor de política da Universidade de Princeton, refere que a mais vincada característica de um populista é afirmar representar a vontade do povo.
No seu livro ‘What is Populism?, escreve que “o que faz os populistas se destacarem é alegarem que são os únicos representantes do 'povo real' ou da 'maioria silenciosa'. Por isso, denunciam que todos os outros concorrentes pelo poder são fundamentalmente ilegítimos, insistindo que os outros são simplesmente 'corruptos' e 'desonestos'”.
O populismo é marcado por um discurso simplista, agressivo e focado na polarização da sociedade. A tal dicotomia ‘nós versus eles’. Susana Salgado, investigadora do ISCTE, dizia num artigo no Público de 2018, que o “eles” são os emigrantes para a extrema-direita e as elites privilegiadas para a extrema-esquerda.
Os populistas assumem, geralmente, uma postura autoritária, sendo comum adoptarem um discurso anti-imigração, e fazerem promessas impraticáveis das quais os políticos mais tradicionais se costumam esquivar.
É comum a preferência por referendos directos, decretos presidenciais ou ordens do executivo como ferramentas de acção, evitando depender de métodos democráticos mais complexos como é caso do poder Legislativo ou Judicial. Apesar de os líderes populistas serem eleitos são avessos à representação democrática, não acolhendo a oposição. Daí, se falar em partidos antidemocráticos.
Na caracterização de um populista, Benjamin Moffitt observa, ainda, ser comum o comportamento atípico deste tipo de político, muitas vezes apresentando-se de formas caricatas. Comum, também, ser apregoado um constante estado de crise. “Existe sempre alguma fatalidade iminente, que só eles sabem como resolver”, explica o especialista.