O silêncio que nos animou

Relativamente à política, passamos uma quadra natalícia em absoluto silêncio que nos apraz registar.

Não sei se devemos agradecer ao Menino Jesus pela graça divina alcançada, ou se à bondade dos nossos políticos em deixar que o povo vivesse o seu Natal na paz de Deus, sem conflitos, discussões, debates agrestes e tudo o mais que a política é fértil e que vai criando mal-estar nos cidadãos comuns, fazendo-os desinteressar-se pelos votos, pela política em geral e, diríamos, pelo seu futuro e da sua própria Terra.

Oxalá que este tempo de silêncio político fosse aproveitado para meditação dos partidos em geral, tempo para operarem mudanças internas, surgirem com outras linhas de orientação, outros modos de fazer política, outras caras novas, afastando definitivamente os rostos gastos pelo tempo de lá estarem que, muito sinceramente, ao surgirem de novo em novas eleições não vão mudar a Madeira em seja lá o que for.

Estamos em época do Santo Amaro, e, como manda a tradição, tempo de varrer os armários. Neste caso, não são as sobras das comidas e bebidas do natal que nos referimos, mas dos “esqueletos” que teimam em se agarrar como lapas às prateleiras dos partidos, saindo sempre que lhes apetece e regressando quando lhes convém.

E esta vassourada não é só recomendada e necessária aos partidos do Poder como, e sobretudo, aos da Oposição.

Há certa gente que parece ter esperança de chegar ao Poder através do “cansaço do eleitorado” ou dos desentendimentos internos nos outros partidos, esquecendo-se que, dentro do seu próprio partido há quem não os queira e que a maioria do eleitorado já deu provas de não os desejar na governação da Madeira.

É lamentável que isto aconteça e triste ver os próprios não reconhecerem isso, cegos que estão pela luxuosa, lucrativa e influente Cadeira do Mandato.

Também existe, infelizmente, os que já lá estão instalados e julgam que lá devem permanecer eternamente. Até ao momento, claro, de serem expulsos pelo voto popular o que, tanto pode demorar algum tempo, como de um dia para outro, surgir alguém em quem o povo reconheça credibilidade e decida apostar.

Contudo, a culpa de todo este imbróglio, desta situação política indefinida, confusa e, digamos mesmo, desastrosa, em que vive a Madeira agora – e o País na generalidade por diversas vezes – tem dois nomes: Justiça (monótona e deficiente) e Leis (incompatíveis e desajustadas ao regime que apregoam de democrático).

A Justiça se fosse mais célere e eficaz, e as Leis com limitação de mandatos e implacável no apuro de responsabilidades de quem ocupa cargos públicos, certamente muita coisa se solucionava.

Primeiro, a afluência de candidatos a determinados cargos, onde a missão de servir o País que não passa de luxuosos e eternos empregos iam diminuir, os interessados iam pensar duas vezes antes de se candidatarem ou aceitarem convites para o desempenho de tais funções e, em segundo e, por consequência, o País, ou as suas regiões autónomas, livrar-se-iam destes pesadelos que, para além do descrédito e desconfiança que causam nas pessoas, ainda provocam perdas de dinheiro que muito serviriam para colmatar necessidades de que tanto o povo e o País padecem.

Bom, mas vamos aguardar por aquilo que aí vem, se bem que, não esperamos que seja diferente do que, há quase 50 anos a esta parte, tem vindo a acontecer.

Juvenal Pereira