Artigos

A ilha dentro de nós

Agosto é agora mais uma folha arrancada do calendário. Para muitos, já consumidos pelo regresso à rotina, parece apenas uma miragem que se esfuma no meio de filas quilométricas que já não conduzem ao destino tão desejado - a praia. No verão, muitas famílias ativam o modo pausa e vão à procura de momentos para construir memórias à beira-mar. Mas para os madeirenses, a praia significa muito mais do que momentos de lazer.

Mais que uma ida à praia, o mar para um ilhéu traz consigo um vasto leque de significados: é parte do nosso ADN, as ondas são o vaivém que trazem as lembranças dos verões da infância, e é para muitos - os que estão longe - o regresso às origens.

Com o fim das férias de verão, muitos voltam a essa vida construída longe da Madeira. Para eles, os que partem em busca de um futuro melhor, fica a esperança de “regressar para o ano, se Deus quiser”. Entretanto, levam consigo um pedacinho mais dessa ilha que nunca deixa de estar presente por esse mundo além e os ajuda a matar as saudades.

Quantos dos nossos antepassados decidiram sulcar os mares sem saber o que lhes esperava do outro lado. Que pensariam os primeiros madeirenses que partiram rumo ao Havai, ao bordo do navio Priscilla, em 1877, e tiveram o mar como companhia durante 120 dias? Ou aqueles que na década de 50, do século XX, viajaram a bordo do Santa Maria com destino à Venezuela para se instalarem nas margens do Mar das Caraíbas no Estado La Guaira (anteriormente Estado Vargas)?

Que sentiriam ante essas travessias que pareciam infinitas? Tempestades, doenças, escassez de comida e até a morte, eram algumas das vicissitudes que tinham de enfrentar para chegar ao destino prometido. Eram outros tempos, certamente, mas a travessia, a partida, a viagem continuam a ser uma realidade para as famílias madeirenses.

Por coincidência ou por decisão própria, muitos dos nossos emigrantes partiram para novas ilhas ou procuraram instalar-se perto do mar. Talvez guiados pela esperança de que o mar que os separava da terra natal era também um símbolo de união com tudo o que deixavam para trás. Por mais paradoxal que possa parecer, o mar é a terra firme dos ilhéus.

Para os que partem sem data de regresso marcada, a saudade aumenta nessa ilha que levam dentro de si. A Madeira, adquire um novo significado para os que partem e a levam consigo ou até mesmo para àqueles que só a conhecem por meio de histórias contadas por familiares. No entanto, A Pérola do Atlântico sempre será a ilha dentro de nós. Para os que ficam, para os que partem e para aqueles que não podem voltar.

Aos emigrantes, até para o ano se Deus quiser.