Artigos

Cresce e (des)aparece

É ‘fake news’. Ninguém está desaparecido e nenhum peregrino é obrigado a participar em atividades das dioceses”. Estas foram as palavras do diácono José Manuel Vaz, ao DN. Ao que consta, está a acompanhar a viagem de uma das quatro delegações da ilha de Santiago, em Cabo Verde, às Jornadas Mundiais da Juventude. Ou seja, a vinda para Portugal com tanta antecedência, uma vez que os alegados 195 desaparecidos angolanos e cabo-verdianos estão, literalmente, sabe lá Deus onde, era para se divertirem.

O atleta Pablo Pichardo também desapareceu da seleção de Cuba e apareceu dois meses depois na de Portugal e ao que consta não se deu mal no triplo salto. Por falar em saltos, acho que os africanos aproveitaram este saltinho à Europa para tomarem chá de sumiço. Não sei se irão amanhã à missa no Parque das Nações, mas também não me consta que alguém se dê à maçada de perguntar a cada uma das pessoas que lá vai estar se é um dos desaparecidos. Tenho a ligeira impressão de que alguns já devem ter chegado a Bruxelas, Paris, ou qualquer outra cidade onde tenham “primos”.

O caso é grave. Não porque os desaparecidos tenham todos mais de 18 anos e possam, por isso, fazer o que lhes apetecer, mas por haver um diácono, que à partida devia ser responsável por uma comitiva, a dizer que não são obrigados a ir às atividades das dioceses. Concordo. Os concertos no Terreiro do Paço e mergulhos nas águas do Tejo têm sido mais apetecíveis, mas ainda não vi imagens de jovens de joelhos a rezar de terço na mão. Pelo menos no canal que sintonizei, só vi festas, divertimento e alguma bebida que, garanto, não era o cálice de nenhum altar.

Estas jornadas transformaram-se numa colónia de férias para muitos, principalmente os que só podem sair dos seus países se alguém lhes pagar a viagem. Portugal, que por estes dias é uma porta escancarada para o espaço Schengen, que abrange quase 30 países europeus, foi uma boa desculpa para uma fuga para a liberdade.

Não se admirem se estes pequenos acabarem em Odemira a trabalhar ao lado dos nepaleses que nunca ninguém viu. Ou que um dia destes estejam na seleção nacional a praticar desporto e nós a aplaudirmos as suas medalhas. Já vi de tudo. E se o diácono também desaparecer, não se espantem. Caramba, ele também não é obrigado a participar nas atividades. Se os pequenos não vão, o que é que ele vai para lá fazer sozinho?

Pode ser esta uma saída para a falta de pessoal nas Forças Armadas, uma vez que os desaparecidos deviam estar pelos lados de Lamego, onde treinam as tropas especiais e perto da Base Aérea de Monte Real, onde estão baseados os aviões F16.