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Os investidores no futebol: Salvação ou morte

O Marítimo recebeu proposta do Alex Burnbury para aquisição de 51% da sua SAD. São falados 40 milhões de euros. Não sei se é muito ou pouco e, pouco interessa. Esses 40 milhões vão para o Clube e nada resolvem na SAD. Todo o mundo fala no valor da SAD e na percentagem que é aceitável, pelo Clube, vender a terceiros. Ninguém fala no montante que, o candidato a sócio, vai investir na SAD. Isto para além do que paga ao Marítimo para adquirir participação. A venda de parte da SAD vai ajudar financeiramente o Clube Sport Marítimo, mas isso é para as contas do Clube. O que importa saber, para o propósito que justifica a venda de parte da SAD, é quanto o investidor vai investir na SAD depois de adquirir uma parte dela. E quanto vai exigir ao Clube e aos demais sócios da SAD no esforço financeiro que é necessário para transformar o Marítimo num grande Clube português. E mantê-lo com esse estatuto.

Não basta comprar uma percentagem da SAD. É preciso investir nela, introduzindo em paralelo com o Clube e outros sócios, muitos milhões para levantar o Marítimo e lhe dar o estatuto pretendido.

E esse investimento, não a compra da participação na SAD, é que importa

O que está em causa é mais um casamento do que um negócio. Uma parceira que traga felicidade mútua é um ganho fantástico para a vida. Ao invés, um casamento infeliz, de ruptura no casal, leva a momentos muito difíceis que, por vezes, o divórcio não resolve.

É preciso encontrar, namorar até conhecer e, então, casar na convicção que essa união concorrerá para a futura felicidade. Nada de precipitações.

O risco prevê-se enorme.

O pior ainda é, na ânsia de mostrar terem investidor à porta, nomearem como tal qualquer gato que se apresente por lebre.

É preciso mais tempo do que se pensa para acertar parceria com investidor. O Nacional fez bem em “parar” até encontrar solução. Entretanto, queda-se pela segunda Liga, mas não fecha a porta e mantém a solvência. De louvar. Garantir a solvabilidade financeira do Clube é a chave da questão.

O Marítimo parece já não ter tempo, na sua obsessão por regressar à primeira Liga. Ou tem dinheiro guardado (??) ou não vai a lado algum. E na procura por um investidor imediato não está livre do risco de ter uma má escolha. Que seria dramático e, muito provavelmente, incurável.

Pensar que alguém investe milhões e deixa a gestão ao cuidado dos actuais gestores é fantasia. Dizem que o Marítimo SAD perdeu oito milhões com a descida. Para já são precisos esses para recolocar a fasquia ao nível de equipa de play-off. E quantos mais são precisos para uma época de qualidade na 1ª Liga ? Tudo por quarenta por cento? O Marítimo tem os restantes sessenta por cento?

Os clubes com “sad’s” desaparecidas devem esse insucesso aos parceiros/investidores e não aos sócios. Quando corre mal, normalmente é mortal. Implica começar do zero. Belenenses, Estrela da Amadora e muitos outros ainda perdidos nas profundezas do futebol não-profissional. O União foi diferente.

Ter tempo é crucial para ter sucesso. Para avaliar antes de decidir.

É melhor um compasso de espera, para um arranque decidido e musculado, do que o risco de correr mal e ter de recomeçar das catacumbas levando, na melhor das hipóteses, cinco ou seis subidas para voltar ao topo.

Uma coisa é certa: há que ter um plano de negócios para a “sad” acertado com o investidor. A venda da ”sad” não é importante. Ou se o for será apenas porque o clube, dono da “sad”, irá receber algum troco que sempre ajuda. O fundamental é haver dinheiro (financiamento) para a actividade a desenvolver no futuro. Não em uma só época mas num médio/longo prazo inicial. Se for planeado com inteligência e competência irá garantir uma actividade que dará os resultados previstos.

Repito: o que está em causa não é o preço de venda da “sad”. É o negócio em perspectiva, o seu financiamento e o respectivo sucesso.

Cada “sad” será o que resultar do seu plano de negócio. Não importa se tem muitos sócios, grandes assistências à borla ou pagando, etc.. O que verdadeiramente é crucial é ser dirigido por gestão séria, competente e responsável. Que perceba de liderança e gestão. Pode levar algum tempo mas, qualquer “sad” pode vir a ser muito bem sucedida.

Vão falando em investidores que não terão maioria nas decisões. Desconfiem desses. Então, alguém compra uma “sad” para perder dinheiro, colocando nas mãos de gestão irresponsável ?