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Que futuro queremos se temos medo de sonhar?

Das próximas eleições para a Assembleia Legislativa Madeira sairá o XIV Governo Regional. Com o 25 de Abril, que abriu as portas à Autonomia Regional, a democracia instalou-se no nosso país e ao longo dos anos consolidou-se. Mas concordarão que a democracia não se expandiu da mesma forma, nem é exercida da mesma maneira, em todo o país: no continente, nos Açores e na Madeira. E é aqui que se notam mais particularidades, não fosse a Região Autónoma da Madeira a única onde nunca se verificou a alternância democrática.

A supremacia do PPD-M, até agora, tem explicações conhecidas e ancoradas no nosso passado histórico, em motivos sociológicos, em condicionantes económicas, em constrangimentos de alguma da nossa comunicação social, num controlo da sociedade civil, na criação de redes de dependência e de subserviência, e claro, em erros da oposição. Erros dos quais assumo alguns.

E se é inegável que o PPD-M tem ganho eleições e formado governo, apesar de todos nós já termos ouvido falar de histórias de “chapeladas”, a verdade é que tem estado ininterruptamente na liderança dos destinos da Região. E esse facto tem corroído a democracia e condicionado a possibilidade de os madeirenses viverem melhor.

É evidente que a Madeira modernizou-se e evoluiu, à semelhança do resto país. Mas as pessoas podiam estar muito melhor do que estão e não haver tanta desigualdade e pobreza. A culpa é de quem? Do PS-M que não teve ainda a oportunidade de governar a Região? Dos grupos económicos madeirenses que fizeram pela vida e cresceram com a governação do PPD-M?

Não partilho da inveja, esse mal endémico, que muitos não escondem, dos que tiveram sucesso na vida e nos negócios. Fico muito satisfeito por haver empresários madeirenses que, dentro ou fora da Região, construíram com a sua capacidade projetos de sucesso e geradores de riqueza. A minha preocupação é unicamente que essa riqueza possa ter um efeito na vida de muitos outros madeirenses, e que outros tantos possam ter a oportunidade de fazer riqueza como eles tiveram. Dito isto, não há nem pode haver, confronto entre a oposição e o poder económico. O que há, pelo menos por parte do PS-M, é uma busca pela transparência dos atos políticos, que desejavelmente devem ser escrutinados pela oposição e questionados pelos órgãos de comunicação social.

O confronto só existe entre projetos e visões políticas distintas entre partidos. É um confronto saudável e basilar dos fundamentos da democracia, não contra o poder económico ou contra os empresários. O problema só existe quando o poder político se deixa condicionar pelo poder económico, e os interesses particulares se sobrepõem aos interesses do coletivo. De resto as elites são importantes para o progresso, quando puxam para cima toda uma sociedade e quando são de diversas áreas políticas ou mesmo sem área política, sejam as elites económicas, políticas, académicas, culturais e religiosas. O foco não são as elites, mas a estratégia para colocar essas elites ao serviço do bem-estar de todas as pessoas

O que se deseja é que o poder político garanta o equilíbrio entre poder económico e justiça social. O PPD-M nunca o conseguiu fazer. Cabe ao PS-M fazê-lo. Cabe ao PS-M defender as pessoas, mesmo que elas por vezes não compreendam a sua ação. Cabe ao PS-M defender a democracia, porque ao fazê-lo está a defender as pessoas. Todas as pessoas. É essa a responsabilidade que o meu partido assume, a de fazer emergir uma consciência pública. Tudo isto vai muito além de uma eleição, porque tudo isto é muito mais do que uma disputa do poder pelo poder, sendo certo que nada mudará sem alternância de poder.

Só assim se poderá ter uma democracia ao serviço de todas as pessoas e não uma imitação de democracia, porque só assim se provocará uma alteração estrutural que trará uma transformação social.

É claro que irão levantar-se as vozes a clamar pela estabilidade. Mas quem quer uma estabilidade como esta que alimenta um fosso cada vez maior de desigualdades sociais em que a pobreza se afunda num poço de anónimos feitos cativos dessa condição por um modelo assistencialista, forjado por uma nomenclatura que faz prevalecer os seus interesses de perpetuação no poder, sem vontade de exercer qualquer mudança efetiva que não represente a sua continuidade e sobrevivência.

A estabilidade não está na permanência no poder dos mesmos de sempre. Isso não é estabilidade, é a permanência de vícios, a cristalização de desigualdades e a manutenção das mesmas redes de influência e de dependência. A estabilidade está na responsabilidade com que se exerce o poder, criando condições para que os que criam emprego continuem a fazê-lo e para que o façam pagando melhor, e para que outros possam ter as mesmas oportunidades. Quebrar a ordem vigente, não implica criar desordem. Implica ajustar e calibrar para que o que de bom foi feito possa ter outro alcance e para que se possa também inovar.

O PS-M quer ganhar as eleições. Mas para lá disso, está comprometido em empoderar os cidadãos. Esta é a grande luta, porque melhorar a democracia é sinónimo de justiça social. E é isso que teme e faz tremer o PPD-M.

O governo do PPD-M só tem uma forma de gestão, a gestão pelo medo. Não falo do medo que procuram disseminar por entre as pessoas, mas do medo de perder o poder. Essa é a sua única motivação que desencadeia toda a ação política. O medo é a principal arma do arsenal populista de um governo autoritário. Saibamos que eles têm muito medo, saibamos porque não querem uma melhor democracia, saibamos que sem o sonho, não podemos encarar o futuro.