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O BCE e a inflação

O Banco Central Europeu voltou a tomar medidas exigentes, subindo de novo as taxas de juro, numa política que julga ser a melhor para conter a inflação. Mas não tem a certeza, como nunca ninguém teve ao longo da história. Foi com algum experimentalismo que, através dos tempos, se enfrentou este fenómeno.

No presente, parece que a inflação vai descendo nalguns países, mas não é certo que se deva a esta política do BCE.

O desagrado em Portugal impulsionou o presidente e o primeiro-ministro a solicitarem mais prudência ao banco central. Mas ficaram por aí, parecendo mais responder aos apelos de uma classe média depauperada, sobretudo pelas taxas de juros dos empréstimos à habitação, do que outra coisa.

O BCE tem uma política para aplicação geral, mas a verdade é que os países europeus apresentam dados díspares uns dos outros. Tanto na inflação, como de ordem salarial ou na maior ou menor robustez das respectivas classes médias. Logo, deveria aceitar adaptações internas ajustadas à realidade de cada nação.

É essa pretensão que António Costa deveria apresentar a Lagarde, salvaguardando as particularidades da situação portuguesa e garantindo a possibilidade de ajustar as orientações centrais à sua condição específica. Mas para isso tem de ter propostas e quem, com competência, as concretize.

Caso tal não aconteça, e a continuarmos assim, o resultado contribuirá para a progressiva proletarização da classe média nacional que se afasta cada vez mais das congéneres dos outros países. E veremos alargar-se o fosso com esta política generalista que tem como referência exactamente os estados membros que melhor reagem e suportam o combate inflacionista e as medidas do BCE.