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O amor é um processo não um momento

A adoção é a decisão de ser pais de filhos não biológicos que exige um acréscimo de competências específicas

Decidir ter filhos é a possibilidade de poder pensar, ponderar, aprofundar e preparar-se para um momento de vínculo eterno, com responsabilidades e exigências que vão mudando e se ajustando aos diferentes níveis de crescimento e desenvolvimento de todos. Uma jornada por etapas.

Não há modelos pré definidos nem fórmulas de sucesso absoluto. Desde o primeiro momento da decisão, cada dia é um desafio e uma aprendizagem. É verdade que procurar conhecimento, partilhar informação e, por vezes, orientação ou ajuda especializada é uma possibilidade que pode facilitar o processo e desbloquear angústias que surgem a quem se encontra pela primeira vez a traçar um caminho carregado de expectativas e inseguranças.

A adoção é a decisão de ser pais de filhos não biológicos que exige um acréscimo de competências específicas para gerir as necessidades das crianças que chegam, muitas vezes, com histórico de abandonos, negligência e outras vivências traumáticas, resultantes das impossibilidades dos anteriores cuidadores.

Cada história transporta uma vida já vivida com memórias que nem sempre facilitam a integração imediata nas novas famílias, que com eles desejam partilhar todo o amor do mundo.

Quando nasce um filho biológico ninguém começa por perguntar se tem a certeza que o deseja ou se pensa devolvê-lo. Tudo se faz para ajudar os pais, menos organizados, a encontrar equilíbrios que facilitem a adaptação e os ajudem a superar os bloqueios internos e conflitos dos sistemas.

De igual modo na adoção a tomada de decisão, ainda que pressuponha um período de adaptação, deve estruturar-se com base na permanência.

A noção de abandono em qualquer criança é aterradora e tende à interiorização da “culpa” que em nada facilita a construção de uma identidade saudável. Também as famílias que adotam devem sentir confiança nas suas competências, apoio nas suas naturais inseguranças e angústias. Há palavras, comentários, sugestões e orientações que não deveriam acontecer. Criam ruído e instabilidade, enfraquecem as pessoas e desvia-as do essencial.

Tudo o que envolve o processo de adoção deve ser mediado com um profissionalismo extremo e uma capacidade empática com as necessidades das crianças e das famílias a fim de facilitar um tão importante momento na vida de todos. Os pais precisam de ser acompanhados desde o momento da decisão até à integração da criança e adaptação do sistema familiar. O equilíbrio vai surgindo da ligação e do vínculo que se vai construindo. O tempo para sentir é transversal aos pais biológicos e adotivos. Ninguém sente uma relação sem que a torne sua na constante interação. O amor é processo não um momento.