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Que seja sempre memorável

Conseguirmos ser felizes com a felicidade dos outros

Hoje é o aniversário de uma das minhas melhores amigas. Ontem foi o de outra. Duas pessoas bem especiais, dois momentos diferentes de convívio, que nos acabam sempre por remeter para aquilo que nós somos e para o que temos ou queremos ter à nossa volta. Não é a primeira nem a segunda ou a terceira vez que falo de amizade nestas crónicas, nem tão pouco será a última. Acho que passamos a vida mais preocupados em encontrar defeitos e falhas nos outros, em apontar o dedo ao que corre mal, a sermos intransigentes, quando se refletirmos bem, é bom que encontremos um espaço de paz em nós que nos permita a soma do elogio, a aprendizagem com os que nos acrescentam e a capacidade altruísta de querermos tanto ou mais para os nossos como queremos para nós. Conseguirmos ser felizes com a felicidade dos outros e transmitirmos esse nosso fascínio e a nossa gratidão pelos momentos inesquecíveis que passamos juntos.

Nem sempre estamos bem e muitas vezes não estamos no nosso melhor, às vezes não nos apetece ser simpáticos, amuamos, irritamo-nos com facilidade e somos brutos ou desagradáveis. Temos momentos em que queremos estar sozinhos, calados, sem que algo ou alguém nos possa chatear ou incomodar, sabendo porém que os nossos amigos podem ter as mesmas vontades ou falta dela em determinadas situações. A verdade é que todos nós gostamos de ter os mais importantes à nossa volta quando importa, gostamos que não nos falhem, que demonstrem o seu amor, a sua dedicação e a sua amizade. É exatamente isso que também eles esperam de nós, independentemente de hoje estarmos mais assim ou mais assado, de até termos outros programas ou sítios onde gostássemos de estar. Esse é o equilíbrio que precisamos na nossa vida, entre o que nos apetece fazer e o que tem de ser feito mas acima de tudo conseguirmos encontrar uma dinâmica de interiorização que nos leve a nos apetecer fazer o que tem de ser feito.

É por isso que é muito importante que consigamos perceber a determinação do tempo e dar-lhe o devido respeito e consideração. Tentar que cada momento que passamos, seja gasto com quem realmente importa e perdermos cada vez menos tempo com o que não nos acrescenta. Mas para além disso, tentarmos passar por cima das nossas frustrações, das nossas angústias e más disposições e aproveitarmos ao máximo o tempo que passamos com as pessoas que gostamos. Fazer com que seja sempre memorável, não através do esforço ou do sacrifício mas através de uma disponibilidade emocional que nos permita sermos completos na presença dos nossos e absorvermos o máximo que conseguirmos. Aproveitarmos cada segundo da partilha tendo a perfeita consciência que a volatilidade da vida pode não nos proporcionar outro tempo como este e que é sabendo disso que devemos partir para cada instante, sem estarmos a olhar para trás, ou agarrados ao telemóvel a ver outras vidas sem prestarmos a devida atenção.

As verdadeiras amizades, como a minha amiga que faz anos hoje ou a de ontem, fazem-se de um caminho que acaba por ser perfeito mesmo nas imperfeições e nas inconstâncias do dia a dia. Nas pequenas discussões de pontos de vista diferentes ou em alguns desentendimentos facilmente reparáveis perante um bem maior. Muitas vezes é na capacidade de nos entendermos na diferença, de nos respeitarmos e apoiarmos mesmo quando não pensamos da mesma forma, que está a magia das relações. Mas é acima de tudo na vontade que temos em estarmos juntos, de aparecermos quando é preciso, de nos gostarmos no silêncio e de não precisarmos de estar sempre para estarmos de corpo e alma. Que o tempo que passamos com as pessoas mais importantes da nossa vida seja sempre memorável, que valha a pena e que se traduza em momentos que ficam para sempre e que ajudam a solidificar, de forma inconsciente, o quanto gostamos uns dos outros e o quanto nos queremos bem.