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Um abraço ao Pe. Martins

O Pe. Martins celebrou, no último domingo, a sua última eucaristia, enquanto pároco da Ribeira Seca. Ao longo de mais de quatro décadas foi um exemplo de resistência à frente da comunidade paroquial que o defendeu contra cercos militares e todas as intentonas que contra ele perpetraram. Foi perseguido pelo Brigadeiro Carlos Azeredo, Governador Civil do Funchal, que não se coibiu de espezinhar todos aqueles que resistiam às forças saudosistas do Estado-Novo. Foi perseguido pela Igreja Diocesana, que o devia proteger e apoiar no trabalho de evangelização que colocou no terreno. Foi perseguido pelo poder regional, em pleno regime autonómico, que de braço dado com a Igreja Diocesana o quis expropriar da Igreja da Ribeira Seca, construída pelo povo local com tanto esforço físico e financeiro. Temos tanto a agradecer ao Pe. Martins. Uma delas é o de ter dado testemunho da Revolução e de fazer de Machico a Terra de Abril, por excelência, na nossa Região.

Temos que aprender com o seu exemplo de desassombro, de não se deixar enredar pelas tramas manhosas dos inimigos do Povo. Este Homem lutou pelo fim da Colonia, regime feudal execrável que colocava os caseiros de joelhos perante os senhorios. Lutou, e ainda luta, estou certo, por um Mundo mais justo, liberto da exploração do Homem pelo Homem. Conheço o Pe. Martins das lides políticas e não posso dizer que sejamos amigos chegados. Conversamos algumas vezes e nunca lhe disse que admiro a sua Luta, a Resistência que soube manter nos momentos mais difíceis da sua vida, mesmo quando a sua Igreja Diocesana lhe “tirou o tapete” e o suspendeu através do malfadado Bispo Santana, um reacionário saudosista do fascismo, uma espécie de Cardeal Cerejeira ao serviço do poder cerceador da Liberdade, nesta Região. Aprendi um pouco acerca do seu trabalho conversando com camaradas que com ele estiveram em todas as Lutas, Homens e Mulheres honrados e que deram tudo o que não tinham para construir a sua Igreja e para que nunca ninguém conseguisse espezinhar os seus direitos. No meio de tantas agruras e desconsiderações, Martins Júnior fez a Festa do Povo na Terra Libertada da Ribeira Seca, ensinando às gerações mais novas que “o Povo é quem trabalha e faz o Mundo Novo”. Que continue por muitos anos a dar testemunho da Liberdade e do 25 de Abril.

Um grande bem-haja e um sentido abraço, Pe. Martins.