Comunidades Madeira

Emigrante com 88 anos vem desfilar no Carnaval

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Mariazinha tem 88 anos, 70 dos quais emigrada na África do Sul. Chegou ontem de propósito à Região depois de longas horas entre aeroportos e ligações aéreas e constrangimentos na hora da chegada. Tantas voltas e contra-voltas que as malas ainda não chegaram à residência, em Câmara de Lobos. Mas o motivo vale bem a pena o esforço: "Razão da visita? Venho participar no desfile de Carnaval".

No momento sentiu-se a emoção na declaração da cidadã natural do Arco da Calheta que emigrou em 1953 para Joanesburgo. "Como o tempo voa", diz-nos. "Fui para lá já casada e sem conhecer o meu marido, era o casamento por Procuração, sabe o que é?, questionava à espera de uma resposta que chegou com acenar de cabeça.

Com Maria Purificação Câmara Gonçalves vieram mais 36 foliões emigrantes das cidades de Pretória, Joanesburgo e Cabo, integradas no grupo Portuguese Dance Society. O convite partiu da Associação Cultural do Império da Ilha que leva anos nestas (an)danças.

 Quase todos elementos são mulheres, apenas três são homens. Um deles é a primeira vez que conhece a ilha. Alberto sorri. Levanta a mão apresentando-se dizendo que por ser de Moçambique até tem desculpa. "Não conhecia nem a Madeira nem o Porto Santo. Agora conheço as duas ilhas", rasga um pouco mais o sorriso, lembrando que o avião da British que vinha para Santa Cruz divergiu para o Porto Santo. Ficamos lá cinco horas", diz-nos agora já sem sorriso. Não é para menos. Todo o tempo esteve dentro da aeronave. 

A rapariga, a mais nova, tem 19 anos e mal fala português. O Michael, esse, nem fala. Mas tenta. Mais agora que é o presidente da Casa Social da Madeira em Pretória. Confessa que gostava de casar... se possível com uma madeirense. "Pode ser que tenha sorte", ouve-se uma voz ao fundo. 

Ao fundo da sala está Octávio Henriques que não esconde a ansiedade por poder "cumprir um sonho" que há muito alimentava. Uma entrada no sambódromo da capital madeirense que é também um cartaz turístico. Tal como é na Cidade do Cabo que junta milhares na avenida principal, ali próximo do Estádio, em Green Point, que costuma assistir.

Por cá, a primeira actuação estava prevista para sábado, mas entretanto chegaram mais convites: para o Trapalhão, para o Carnaval do Estreito, mas será já na sexta que acontece o primeiro desfile, promovido pela Junta de Freguesia de Câmara de Lobos. O autarca apressou-se e ainda foi a tempo.

Quem chegou apressado foi o presidente da Câmara de Câmara de Lobos que ainda assim foi dar as boas-vindas ao grupo, desejar bons desfiles e deixar um alerta: "Cuidado com a poncha". Pedro Coelho não engoliu em seco e puxou dos galões, aproveitando para falar em português e... inglês, para o caso de ter escapado qualquer detalhe aos membros da comitiva.

Mariazinha ía ouvindo as conversas mas nem isso a sossegava. Estava em 'pulgas' e não parava de ensaiar os passos a meio da sala. "Sou assim, extrovertida, mas sou respeitadora", diz-nos ao ouvido e num nítido português sem se notar qualquer sotaque mais 'inglesado', fruto dos anos que leva pelas 'áfricas', e não fosse aquela despedida final com aquele "Goodbye", diríamos que nem tinha saído do sítio onde nasceu: da Calheta.