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EUA vetam resolução do Conselho de Segurança que exigia cessar-fogo em Gaza

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Os Estados Unidos vetaram hoje um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, apesar do apelo inédito lançado pelo secretário-geral da organização, António Guterres.

A resolução, da autoria dos Emirados Árabes Unidos e que foi apoiada por quase uma centena de Estados-membros, foi rejeitada com um voto contra dos Estados Unidos (membro permanente, com poder de veto), 13 a favor e uma abstenção (Reino Unido).

Os norte-americanos, aliados de Israel, vetaram hoje pela 35.ª vez, desde 1970, uma resolução sobre a questão israelo-palestiniana (de um total de 39), segundo a agência France Press (AFP), repetiram assim a sua rejeição a um cessar-fogo.

"Não apoiamos uma resolução que apela a um cessar-fogo insustentável, que simplesmente plantará as sementes da próxima guerra", justificou o vice-embaixador norte-americano na ONU, Robert Wood, denunciando também o "fracasso moral" da ausência de uma condenação específica no texto dos ataques de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas.

Wood disse ainda que o projeto era "precipitado", "desequilibrado e divorciado da realidade", e criticou o facto de as recomendações norte-americanas terem sido "ignoradas" durante o processo de consultas.

Também a embaixadora britânica junto à ONU, Barbara Woodward, disse não poder apoiar uma resolução que não condene os ataques terroristas do grupo islamita.

"Não podemos votar a favor de uma resolução que não condene as atrocidades cometidas pelo Hamas contra civis israelitas inocentes no dia 07 de outubro. Apelar a um cessar-fogo ignora o facto de o Hamas ter cometido atos de terror e ainda manter civis como reféns", argumentou.

O projeto de resolução - agora rejeitado - manifestava "grave preocupação com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza e com o sofrimento da população civil palestiniana", sublinhava que "as populações civis palestinianas e israelitas deveriam ser protegidas de acordo com o direito humanitário internacional" e exigia um cessar-fogo humanitário imediato.

Exigia também a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e a garantia de acesso humanitário.

O representante dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed Abshahab, lamentou que, com esta votação, "o Conselho permaneça isolado e, portanto, pareça desligado do seu próprio documento fundador".

"Que mensagem estamos a transmitir aos palestinianos se não podemos unir-nos em torno de um apelo para parar o bombardeamentos e ataques incessantes em Gaza?", questionou o diplomata.

A votação ocorreu depois de Guterres ter invocado na quarta-feira, pela primeira vez desde que se tornou secretário-geral, o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas, pedindo ao Conselho de Segurança, o único órgão da ONU cujas decisões têm caráter vinculativo, que "evitasse uma catástrofe humanitária" no enclave e aprovasse um cessar-fogo.

Na manhã de hoje, numa reunião do Conselho de Segurança, Guterres reiterou esses apelos e explicou que invocou o artigo 99.º da Carta das Nações Unidas devido ao "ponto de rutura" em Gaza, denunciando o elevado risco de "colapso total do sistema de apoio humanitário".

"Existe claramente, na minha opinião, um sério risco de agravamento das ameaças existentes à manutenção da paz e da segurança internacionais", alertou Guterres, denunciando ainda que "não existe uma proteção eficaz dos civis".

"Os olhos do mundo -- e os olhos da história -- estão a observar. É hora de agir", apelou.

O líder da ONU sublinhou que, embora o lançamento indiscriminado de foguetes pelo Hamas contra Israel e a utilização de civis como escudos humanos constituam uma violação das leis da guerra, tal conduta "não absolve Israel das suas próprias violações".

Apesar dos apelos de Guterres e da comunidade internacional, os Estados Unidos opuseram-se explicitamente a um cessar-fogo.

"Ao continuar a fornecer armas e proteção diplomática a Israel, que está a cometer atrocidades (...), os Estados Unidos correm o risco de se tornarem cúmplices de crimes de guerra", reagiu Louis Charbonneau, da organização não-governamental Human Rights Watch, num comunicado de imprensa.