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Reflexão ano novo

Fala-se demais para a bolha mediática e de menos para o cidadão comum

Atendendo a que em 2024 comemoramos os cinquenta anos da conquista da Liberdade - primeiro passo para a Democracia consolidada a 25 de novembro de 1975 - a minha resolução de Ano Novo dedica-se à reflexão que os ditos partidos tradicionais devem fazer nesta quadra.

Num tempo em que se afirma que os extremismos estão no auge da sua popularidade em Portugal, seguindo uma tendência europeia que se iniciou em 2016, e em que os partidos tradicionais caminham para a meia-idade, julgo que as ascensões desses novos extremismos, em Portugal e em toda Europa se devem a três fatores.

O primeiro dos quais tem a ver com o facto de os Partidos tradicionais fugirem, qual diabo da cruz, de uma mensagem e posicionamento claro quanto aos processos judiciais que envolvem os políticos, as instituições do Estado e as instituições financeiras. Para o cidadão comum paira sempre no ar a ideia de que os partidos tradicionais não são acintosos no domínio destas matérias porque têm algo a esconder. Uma espécie de concretização do adágio popular “quem tem telhados de vidro, não atira pedras”. Essa postura deve ser evitada, pois constitui terreno muito fértil para capitalizar o descontentamento que a falta de seriedade causa em qualquer cidadão. Afinal, ninguém gosta de se sentir enganado.

O segundo tem a ver com a incapacidade de falar nos temas emergentes. Regra geral, há uma inaptidão de adaptação de todos estes partidos, a uma sociedade mais jovem, de causas e não uma sociedade ideológica. Isso afasta-os dos novos eleitores e, consequentemente, há uma migração natural para os “partidos de protesto”.

O terceiro ponto, consiste em menosprezar o papel das novas formas de comunicação. Os partidos tradicionais têm, tendencialmente, uma mensagem padronizada, desadequada aos novos públicos e às formas cada vez mais simples de passar uma mensagem. Fala-se demais para a bolha mediática e de menos para o cidadão comum.

Por fim, a ideia de que os melhores quadros de cada geração não querem nada com a política. Pressupõe-se que os políticos dos partidos tradicionais são todos maus e os dos novos partidos “são bons porque dizem as verdades”.

Tudo isto conduz-nos a uma consequência: a perceção de que os movimentos de causas têm mais facilidade em apostar em jovens para ocupar lugares nos centros de decisão, quando comparados com os partidos de maior carga ideológica, mesmo quando estes tenham mais jovens em lugares de decisão.

Face a tudo isto, apenas duas sugestões para a reflexão, a bem da Democracia: renovar a marca, os objetivos e as metas desses partidos; promover a integração de mais jovens nos centros de decisão como forma de combater uma natural tendência para o conformismo. Tudo o que seja diferente disto representa uma opção pouco inteligente com elevados custos para a Democracia e a vida de cada um de nós.