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Fact Check Madeira

A Madeira é a primeira região do país a imunizar bebés contra o vírus respiratório VSR?

A imunização, agora em curso no Hospital Dr. Nélio Mendonça e nos centros de saúde da RAM, é indicada, “para os bebés que ainda não tiveram contacto com o VSR e que vão viver o seu primeiro Inverno”

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“A Madeira foi a primeira região do país a implementar esta imunização, uma importante conquista no âmbito da saúde pública na RAM que vai permitir reforçar a prevenção da infecção por vírus [VSR, causador de Bronquiolites e Pneumonias em bebés]. Trata-se de um passo inovador no país e muito significativo na prevenção de uma doença que pode ser fatal”, comunicou o Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma da Madeira, em nota à imprensa enviada a 31 de Outubro, na qual anunciava o início desta campanha de imunização no arquipélago madeirense.

A Circular Normativa S1797/2023 veio definir a imunoprofilaxia da infecção pelo VSR com o anticorpo monoclonal nirsevimab para a época 2023-2024, “suportada pela evidência científica disponível relativamente à segurança e à eficácia do anticorpo monoclonal nirsevimab, gerada por vários ensaios clínicoss-11, assim como, pela aprovação pela EMA para a sua utilização em recém-nascidos e latentes para prevenção da infecção por VSR”.

Mas será que a Madeira foi realmente a primeira região portuguesa a avançar com esta imunização em bebés?

Numa rápida consulta à página da Direcção Regional de Saúde foi-nos possível verificar que a imunização contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) não está incluída no Programa Nacional de Vacinação, nem tão pouco há indicação de que tenha existido o procedimento nos últimos relatórios sobre imunizações, nem na população idosa, nem para os bebés.

Isto mesmo que a evolução do VSR tenha vindo a ser acompanhada nos últimos tempos a nível europeu, e se tenha verificado um aumento da sua actividade. “Na UE/EEE, na semana 41 de 2023, a incidência de infecções respiratórias agudas na comunidade encontrou-se dentro do esperado para esta época do ano. A transmissão de SARS-CoV-2 entre grupos etários mais velhos aumentou em cerca de 50% dos países, com aumento de internamentos e óbitos em hospitais e UCI. Verificou-se um aumento na actividade do vírus sincicial respiratório (VSR). A actividade da gripe sazonal permaneceu em níveis baixos ou basais”, pode ler-se no Relatório n.º 46 da Resposta Sazonal em Saúde - Vigilância e Monitorização.

No entanto, a Direcção-Geral da Saúde, na Norma 012/2013, actualizada a 28 de Dezembro de 2015, já dava nota de administração do palivizumab, [outro anticorpo monoclonal] para prevenção de infecção pelo vírus sincicial respiratório em crianças de risco.

“A prescrição de palivizumab durante a época sazonal de circulação do vírus sincicial respiratório (VSR) deve ser indicada nos seguintes grupos de risco”, nos quais se incluíam entre outras: Crianças com cardiopatia hemodinamicamente significativa (CHS), cianótica ou acianótica; Crianças com hipertensão pulmonar (HTP) moderada ou grave; Lactentes até aos 12 meses de idade cronológica com displasia broncopulmonar (DBP) moderada ou grave, etc.

Por outro lado, atendendo às últimas notícias mundiais, tem havido grandes avanços, com a aprovação da primeira vacina contra o VSR a ser dada a conhecer em Maio de 2023.

“A Agência dos Alimentos e dos Medicamentos norte-americana (FDA, na sigla em inglês) autorizou a vacina, denominada Arexvy e desenvolvida pela gigante farmacêutica britânica GSK, para adultos com 60 anos ou mais.

(…) Na semana passada, esta mesma vacina recebeu parecer favorável da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), sendo que a decisão final da Comissão Europeia é esperada para os próximos meses”, lia-se num texto do Expresso.

A imunização, agora em curso no Hospital Dr. Nélio Mendonça e nos centros de saúde da RAM, é indicada, continua a nota à imprensa, “para os bebés que ainda não tiveram contacto com o VSR e que vão viver o seu primeiro Inverno”.

O anticorpo contra este vírus vai ser administrado na maternidade do Hospital Dr. Nélio Mendonça aos bebés nascidos a partir do dia 1 de Novembro de 2023 (até 31 de Março de 2024) e, no caso dos bebés nascidos a partir de 1 Abril até 31 de Outubro de 2023, a imunização vai acontecer nos Centros de Saúde da RAM.

O Governo Regional, através da Secretaria Regional de Saúde e Protecção Civil, adquiriu para tal 2400 vacinas, um investimento superior a 500 mil euros.

E é aqui, analisados alguns dos dados disponíveis sobre esta temática, que a Madeira parece inovar, ao fazer chegar esta imunização a um espectro alargado, nomeadamente a bebés e jovens que não configuram grupos de risco. "A imunoprofilaxia da infeção pelo VSR com o anticorpo monoclonal nirsevimab, durante a época 2023-2024, prevê a administração de nirsevimab a todos os recém-nascidos e latentes com menos de 8 meses, no início da época epidémica, para níveis de proteção até 150 dias em qualquer grupo etário ou peso".

Apesar da imunização contra o VSR não ser nova em Portugal (junto de crianças em risco), a Madeira é pioneira, ao fazer chegar esta imunização a um espectro alargado, nomeadamente a bebés e jovens que não configuram grupos de risco.