A eleição de fascistas na Argentina e na Holanda

Temos sido todos alertados sobre a emergência do neo-fascismo; partidos e movimentos que nos reconduzem ao mais sinistro do que aconteceu no século XX e teima em querer reproduzir-se, agora, ainda que envolto em novas roupagens.

Começando pelo essencial, há a desconsideração e perseguição das liberdades e dos direitos humanos básicos: o direito à livre opinião, à livre expressão e à livre associação. Só sou uma pessoa, inteira e capaz de interagir na comunidade social onde estou incluído, se for livre de dizer o que penso, expressar-me por qualquer meio (possibilidade bastante amplificada nos tempos que correm) e associar-me aos que pensam como eu. Este é o Coração da Liberdade!

Parecerá claro, para quem concorda com estes princípios, de que a afirmação das nossas liberdades, – repito, de opinião, expressão e associação -, deverá ter sempre em conta que existem outras pessoas nas mesmas comunidades onde cada um se insere, pelo que implicará o respeito, consideração e garantia de expressão de opiniões diversas. Todos têm direito a ter a sua ideia sobre qualquer tema, a expressá-la e até a formar ou integrar uma coletividade que professe a sua ideologia. Seguindo o velho ensinamento liberal: “não gosto das tuas opiniões, mas defendo, até à morte, o direito que tens de dizê-las”.

Ao contrário do que possa parecer a mentes apressadas, a virtude da democracia reside sempre na diversidade. Na capacidade de aceitar o que é contrário e debatê-lo. As governações que se vão renovando ou sucedendo são o garante do progresso dos povos e a alternância, nos países europeus, nunca resultou, a prazo médio ou longo, em desfavorecimento da situação social e económica das populações. Não vou reproduzir estatísticas que não caberiam neste texto, mas estão disponíveis. A maior parte dos países da Europa do Norte vive muito bem com governos de coligação que, nem sempre, ou até, quase nunca, têm maioria absoluta.

Os anarquistas ingleses disseram, a uma certa altura do século volvido, que “não interessa em que partido se vota, o Governo está lá sempre!” O tempo decorrido demonstrou que tinham razão: nos temas essenciais da economia e finanças, com mais ou menos variação, as opções mantiveram-se independentemente da facção que tenha estado no poder. E no final, a democracia liberal capitalista (estou a falar de grandes princípios) demonstrou até agora, ser, como disse Churchill, o melhor dos piores sistemas possíveis, na certeza de que não existem outros.

O “fetiche” que se instalou por aí, fixado em maiorias absolutas e no repúdio dos estrangeiros, pode até conduzir-nos a aceitar soluções que possam fazer perigar a democracia. As eleições de um Trump nos EUA e de um Bolsonaro no Brasil, fizeram temer de que o fim (da democracia) estava próximo! Felizmente, os povos americano e brasileiro rechaçaram, até ver, esta hipótese.

Resta saber como é que o povo argentino vai lidar com esta caricatura (muito mal imitada) de Jorge Videla e das suas políticas. Será que a Argentina vai ter, novamente, razões para chorar?

Quanto à Holanda, nação de gente muito prática que, a uma dada altura da história, até acolheu, com grande proveito económico e cultural, os perseguidos da Europa – lembre-se, por todos, o grande Erasmo de Roterdão que, afinal, era português, mas judeu -, pasma-se que tenha dado a vitória eleitoral a um grupo de xenófobos da extrema-direita. Espero que a maioria dos holandeses que não professam, afinal, tais ideias, acabe por prevalecer!

João Cristiano Loja