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Crónicas

Tolentino e Ronaldo o poder da Madeira

Podemos pois dizer que a Madeira não tem falta de vocações, e que a espiritualidade abunda na nossa ilha

Não é segredo para ninguém que a Igreja portuguesa está com problemas de vocação, mas a Madeira é um oásis nesta matéria, pois no Seminário dos Olivais há três madeirenses que querem dedicar a sua vida a Deus. E este facto não deixa de ser curioso, até porque um dos homens mais influentes no Vaticano, é precisamente um madeirense: Tolentino de Mendonça, uma espécie de braço direito do Papa Francisco. E este dado é ainda mais relevante, quando se sabe que Leiria/Fátima apenas tem uma candidato a padre nos seminários portugueses.

Podemos pois dizer que a Madeira não tem falta de vocações, e que a espiritualidade abunda na nossa ilha. E este facto é ainda mais curioso quando a Igreja universal, e não se confunda com outras religiões, se debate com problemas muito complicados que podem levar, em última instância, a um cisma, leia-se cisão, na Igreja Católica.

O último cisma foi no século XVI, que levou à criação da Igreja Anglicana. Mas o que se passa hoje que poderá levar a uma separação entre conservadores e progressistas, culminando numa separação no Vaticano? As chamadas questões fragrantes, como seja o casamento de padres, a permissão de comunhão de recasados, e os mesmos direitos para os homossexuais. O Papa Francisco, um homem que já deu provas de ser imprevisível, decidiu transformar o Sínodo dos Bispos num encontro mais alargado, incluindo mulheres com direito a voto. Esta revolução que passou despercebida a muita gente, terminou no dia 29 de outubro, mas quando muitos esperavam decisões definitivas sobre os assuntos fracturantes, numa espécie de guerra entre a Igreja dos EUA, muito mais conservadora, e a Igreja da Alemanha, muito mais progressista, terminou num impasse. E porquê? Porque o Papa decidiu convocar as diferentes facções da Igreja, mas obrigando-os a manterem silêncio sobre as questões polémicas. O objetivo do Papa foi colocar gente de mundos muitos diferentes a conversar, a debaterem o que os separa, para voltarem para o próximo Sínodo, em 2024, e aí tentarem chegar a uma conclusão. É que as realidades são tão diferentes que é preciso muita reflexão, algo que falta tanto nos dias de hoje. Antes de irmos a casos concretos, atentemos no que foi decidido tornar público, nomeadamente as questões de género. Por indicações do Papa, decidiu-se que o comunicado não podia contribuir para a divisão dos participantes, e, por isso, tudo o que se referia à comunidade LGTB+ falava em questões “relacionadas à identidade de género e à orientação sexual”.

Mas o que o Papa quis deixar muito evidente é que a realidade da Europa, por exemplo, é muito diferente de África. Quando por cá se discute as questões dos homossexuais, dos recasados dos casamento dos padres, em África fala-se de poligamia. Quantos padres haverá em África que têm várias mulheres e querem saber se isso pode ser legalizado? Os exemplos que separam os vários continentes são muitos.

Atendendo ao perigo de cisão, o Papa quis colocar a tónica na capacidade de todos se ouvirem uns aos outros e saberem o que os separa. Já com o assunto amadurecido, em outubro de 2024 voltarão a falar de todos os temas. Mas como o Papa Francisco não gosta de dar ponta sem nó, deu gás à questão da ordenação das mulheres diaconisas, que terão um papel determinante na Igreja Católica, e que poderão substituir, em muitos casos, os padres, nomeadamente nas cerimónias religiosas de funerais, batismos e afins. Como é óbvio, as opiniões dividiram-se, até porque não se sabe muito bem qual foi o papel das diaconisas no tempo da Igreja antiga. Mas, para muitos, as mulheres diaconisas são uma resposta “apropriada e necessária aos sinais dos tempos para renovar a vitalidade e a energia da Igreja”. Já para outros, há o “temor de que esse pedido seja a expressão de uma perigosa confusão antropológica, aceitando-se que a Igreja se alinhe com o espírito dos tempos”. Como se vê, a Igreja vai ter tempos difíceis, e uma madeirense terá um papel determinante: o cardeal Tolentino Mendonça.

Se no futebol temos o Cristiano Ronaldo na Igreja temos D. Tolentino Mendonça.