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O PPD/PSD Madeira já não é o que era

E nunca mais vai ser. É essa a grande ilação a retirar das eleições do último dia 24. Ainda que desde 1976 e das primeiras eleições regionais o resultado final seja sempre o mesmo, é inequívoco que, aos poucos, a Madeira está a mudar - e onde o PPD/PSD registava vitórias inquestionáveis, desta vez, apesar de coligado com o CDS, voltou a confirmar as fragilidades expostas em 2019 e que a oposição deve, agora, ser capaz de explorar definitivamente.

Em 2013, quando o PSD perdeu as eleições autárquicas na Região, os astros alinharam-se todos: internamente, a luta entre Miguel Albuquerque e Alberto João Jardim deixava marcas; externamente, a insatisfação com a governação de Alberto João e Pedro Passos Coelho acentuava-se, perante uma crise económica sem precedentes, redobrada na Madeira pelas opções de quem governava cá e lá. Não duvido que foram esses factores de contexto que permitiram à oposição vencer sete das 11 câmaras municipais. E se em 2015 a Madeira não aproveitou a saída de Jardim do poder e as consequências da guerra interna do PSD para vencer as eleições regionais, foi porque cedeu a caprichos individuais menores que deitaram por terra aspirações colectivas maiores.

Em 2019, quando o PSD perdeu, pela primeira vez, a maioria absoluta, foram os detalhes que determinaram o desfecho final: uma ou outra ideia mal explicada, uma ou outra escolha errada, um ou outro erro de campanha - todos somados, suficientes para que o PS ficasse a pouco mais de mil votos de eleger mais um deputado e a pouco mais de 5 mil de derrotar cabalmente o PSD. Ambos os cenários teriam sido suficientes para impedir que a maioria social da Região que não quer o PSD a governar fosse traída por um CDS mais preocupado com lugares do que em mudar a Madeira.

Em 2023, aí está a muito previsível resposta dos eleitores a tudo o que aconteceu entretanto. Os madeirenses estão de tal forma cansados de uma governação que caminha para 50 anos, que nem em coligação PSD e CDS foram capazes de obter uma maioria absoluta - mas os madeirenses também estão de tal forma desiludidos com o caminho da oposição, que voltaram a fazer o que têm feito ao longo dos últimos 20 anos: descontentes com a governação, mas insatisfeitos com o estado da oposição, castigaram o principal partido responsável por liderar e construir a alternativa, o PS, e votaram em todos os outros. Depois, o que os madeirenses tiveram oportunidade de confirmar agora na Região, foi o que descobrimos na Assembleia Municipal do Funchal em 2017: entre os partidos mais pequenos, há sempre alguém disposto a estender a mão ao PSD.

É esse fenómeno de desilusão com o trabalho do principal partido da oposição e com a incapacidade de construir uma alternativa mobilizadora que explica o resto dos resultados. O PCP beneficiou da sua proximidade à população, em particular nas zonas altas do Funchal, e do capital político de Edgar Silva, pelo histórico, e de Ricardo Lume, pela energia parlamentar; o BE do trajecto combativo e competente de Roberto Almada; o PAN da imagem fresca da jovem mulher Mónica Freitas; a IL e o CHEGA da relevância nacional; e o JPP do trabalho de oposição dos últimos anos, ainda que manifestamente prejudicado, em particular em Santa Cruz, por uma fractura interna absolutamente incompreensível aos olhos de qualquer madeirense.

O que se seguiu às eleições regionais é inqualificável: na noite eleitoral, a capitulação política de Nuno Morna, que sempre rejeitou acordos, mas que só não os concretizou por desinteresse dos parceiros; no dia seguinte, a de Mónica Freitas, cuja juventude foi traída pelo cheiro a mofo do poder; depois, a redução do CDS à sua progressiva insignificância, perdendo uma Secretaria Regional; e ao longo de toda essa semana, a razia na automonia político-partidária do PSD, CDS, PAN, IL e CHEGA, sujeitos a lógicas nacionais que subjugaram as estruturas regionais a vontades alheias, fazendo lembrar tempos recentes de má memória para os madeirenses.

Perante tudo isto, a responsabilidade do PS pelo que aconteceu ao longo dos últimos quatro anos e pelo que acontecerá ao longo dos próximos é inquestionável. Guardarei o que tenho a dizer sobre isso para outro momento. Para já, limito-me a olhar para fora: o CDS é cada vez mais irrelevante e o PSD já não é o que era - e nunca mais vai ser. O poder unânime de Jardim deu lugar à liderança hesitante de Albuquerque, que dará lugar à ignorância atrevida de Calado. Na guerra pela sucessão, o último mandou desligar a máquina de campanha no Funchal antes do tempo, direccionando-a contra o vizinho Pedro Coelho. O espectáculo é tão mau e degradante que os madeirenses, cansados de mais do mesmo, só precisam que lhes apresentemos, de uma vez por todas, A Alternativa. O nosso dever é só um: construí-la.