Carta de uma trabalhadora/estudante

Queridos jovens, principalmente você que como eu pertence a comunidade "diferente", quando o assunto é mercado de trabalho, é comum encontrarmos dificuldades em encontrá-lo, principalmente se você estiver inserido em comunidades vulneráveis e viver em uma terra onde o que predomina são os ‘contatos’ e não as competências. A escolaridade obrigatória aplica-se a poucos. De fato, a atual taxa de desemprego e a pobreza traz uma incerteza sobre o futuro do trabalho. É uma preocupação latente para qualquer pessoa. Porém, quando falamos da inclusão produtiva do jovem, do sénior, do negro entre outros, que se esforçaram para uma qualificação em busca de uma evolução profissional, o cenário é ainda mais preocupante. A taxa de desocupação entre os jovens e sénior sem um lugar digno no mercado é gritante, é um pedido de socorro em uma comunidade onde a maioria só se preocupa em se beneficiar e beneficiar o seu amigo ou família, independentemente de qualificações ou experiência.

E embora alguns desafios sejam comuns entre jovens em início de carreira, estas incertezas espalham também pelos membros de outras raças, culturas, idades, entre outros. O medo e a insegurança circula por todo o lado, as represálias surgem e as classes vulneráveis são o alvo mais comum. O cenário não é o mesmo para todos os jovens/adultos, existe um grupo privilegiado, este grupo pouco ou nenhum estudo/experiência precisam ter, o ideal é que tenha alguém disposto a quebrar o juramento de ética e burlar todo o sistema comum e colocá-lo onde ele quer estar. E nós continuamos a incentivar os nossos jovens a estudar mas sem argumentos válidos que os façam acreditar em um futuro digno e que terão uma posição reconhecida nesta comunidade. O que aprendemos nos dias de hoje, é que além de estudar precisamos ter alguém capaz de nos elevar e de preferência que não façamos parte de uma comunidade que já está inserida no grupo de exclusão, do contrário, todo o seu conhecimento será levado para o túmulo.

Quantos especialistas principalmente na área da saúde temos hoje sem qualquer vantagem ou reconhecimento profissional porque alguém com o seu contato chegou a frente.

Entre os jovens negros, por exemplo, o número de jovens buscando emprego é quase o dobro de jovens brancos, e a maioria dos jovens que não estudam e não concluíram o ensino superior são negros.

Centenas de pessoas LGBT poderiam se somar à força de trabalho, mas ainda acabam sendo marginalizadas por preconceito.

Estes são apenas alguns exemplos das particularidades do mercado de trabalho para diferentes grupos. E eu pergunto: O que fazer quando os jovens têm suas perspectivas de trabalho limitadas mesmo com habilitações literárias superiores às pedidas, ou por sua origem, etnia, identidade entre outros?

O acesso ao trabalho deveria ser um direito básico, sem cor e sem favoritismos. Os impactos deste processo sujo de forma subtil ou explícita, impedem todos os dias a permanência de milhares de jovens/adultos de entrarem no mercado de trabalho e quando entram é para serem escravizados.

A vivência de cada jovem/adulto é única e singular, mas vale a pena conferir esses relatos. Eles trazem perspectivas sobre maternidade e trabalho, acesso à universidade, presença de jovens, seniores, negros e população LGBT no mercado de trabalho.

Acredito que seja o momento de darmos importância ao incentivo coletivo e público para ampliar oportunidades de trabalho em todos os seus recortes e diversidade, mas trabalho, e não escravatura. Para os jovens eu insisto, "nunca desista do seu sonho" mesmo que para isso você precise voar para lugares onde há dignidade, e por favor, cuidem da vossa saúde mental, eu posso afirmar com precisão que faz parte dos requisitos para o sucesso em todas as áreas da sua vida. Deus vos abençoe!

P.S.: Graduada em Gestora de RH, Técnica Superior em Serviço Familiar e Comunitário, Licenciada em Educação Básica, e especialista em Neuropsicopedagogia e Educação Especial e Inclusiva. Mas atualmente cumprindo a missão que me foi confiada de Ajudante Domiciliária com muito prazer porque eu amo ser útil para quem realmente precisa e infelizmente muitas vezes são contabilizados apenas como um número e uma fonte rentável.

Kezia Abrunho