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Madeira

Histórias dos ‘Cães da Noite’ do Porto Santo

Revista Diário falou, há 20 anos, com o líder do grupo

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Eram um auto-proclamado grupo de vigilantes e percorriam as estradas do Porto Santo para defender a ilha. Os ‘Cães da Noite’ tinham muitas histórias para contar e o DIÁRIO deu-lhes voz na Revista Diário publicada a 19 de Outubro de 2003.

Foi no início dos anos 80 que este grupo começou a percorrer as estradas do Porto Santo e a ‘fama’ virou lenda na ilha dourada. Dezenas de pessoas acabaram por dar entrada no Centro de Saúde com ferimentos, alguns deles graves, alegadamente perpetrados por este grupo.

Filipe ‘China’ contava que, aos 19 anos, era o líder do grupo, que se fazia transportar em motas pintadas de preto, sem matrícula, em que até os faróis eram pretos. As camisolas eram brancas e com o nome ‘Cães da Noite’ estampado. O grupo «apanhava» quem se ‘portava mal’ no Porto Santo, principalmente se fosse gente de fora. O então líder assumiu que chegavam a ajudar a polícia, como numa vez em que descobriram uma garagem onde ‘gente de fora’ guardava motas roubadas no Porto Santo.

O ‘Cão da Noite’ assume que, como não havia tribunal, as coisas acabavam por se resolver com um aperto de mão ou, em casos mais difíceis, era através da intervenção do então presidente da Câmara.

“Não tínhamos nada contra os madeirenses, mas não admitíamos que viessem para cá roubar uvas e destruir os campos, partir bancos e candeeiros, entortar chapas de matrícula. Não admitíamos que nos chamassem ‘jericos’. Éramos um grupo de dez vigilantes. Todas as noites percorríamos a ilha de mota e quem fizesse merda…”, relatava Filipe ‘China’.

Os ‘Cães da Noite’ assumiam ter posto “muitos a dormir”. Para isso, usavam não só as mãos, mas também armamento que guardavam num armazém: correntes, paus, tacos de basebol e ferros.

“Nunca matámos ninguém. Rachávamos algumas cabeças, mas nunca matámos ninguém. Para ser um ‘cão da noite’ não se podia ser muito louco”, recordava.

O chefe da esquadra da PSP do Porto Santo, nessa época, relatava que nunca tinham tido problemas com o grupo, pese embora se metessem em algumas confusões, mas sem nunca roubar nada a ninguém.

Numa noite de chuva, os ‘Cães da Noite’ tiveram um acidente de carro, no sítio do Pedregal e caíram de um abismo. Um dos ocupantes da viatura morreu, outro ficou paralíticos e os restantes três foram transferidos para a Madeira. ‘China’ ficou internado durante meses. Foi aí que a fúria dos ‘Cães da Noite’ começou a refrear.