A Guerra Mundo

Kiev e Moscovo pedem intervenção da Turquia para ajuda humanitária

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Os mediadores humanitários ucraniano e russo pediram hoje a intervenção da Turquia para criação de um "corredor humanitário" e trocas de prisioneiros, e o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan manifestou-se "disposto" a desempenhar essa função.

"Trocámos listas de prisioneiros militares e decidimos reenviar mais de 40" declarou aos 'media' a representante russa, Tatiana Moskalkova, após um encontro com o homólogo ucraniano, na terça-feira e hoje em Ancara.

O seu homólogo ucraniano, Dmytro Lubinets, não comentou nem precisou a posição do seu país sobre este ponto.

Ancara já desempenhou em setembro uma função decisiva numa troca de prisioneiros entre a Rússia e a Ucrânia.

De acordo com o mediador turco que se reuniu com os representantes dos dois países beligerantes, os representantes pediram a ajuda da Turquia para a abertura de um corredor humanitário destinado à retirada de pessoas vulneráveis.

"Há feridos, mulheres e crianças permaneceram no meio dos combates dos dois lados. Os mediadores exprimiram um pedido comum, a abertura de um corredor humanitário sob a égide de Recep Tayyip Erdogan, como o fez para o corredor de cereais" no mar Negro, afirmou aos 'media' Seref Malkoç, que se encontrou com os representantes ucraniano e russo em Ancara.

"Malkoç revelou uma proposta relacionada com a abertura de um corredor para os feridos. Estamos prontos", afirmou pouco depois o chefe de Estado turco, sem precisar os contornos nem comentar uma eventual troca de prisioneiros.

No entanto, acrescentou Erdogan, "esta iniciativa deve ser encarada não apenas no contexto da situação entre a Rússia e a Ucrânia, mas também em relação aos desenvolvimentos na Síria, Líbia, Azerbaijão. Prestamos assistência a pessoas feridas vindas dessas regiões, fornecemos tratamento médico e depois enviamo-las para casa".

Os dois enviados ucraniano e russo, Dmytro Lubinets e Tatiana Moskalkova, encontraram-se uma primeira vez na terça-feira em Ancara e de novo hoje, na presença de Malkoç e do presidente do parlamento turco.

De acordo com Lubinets, em mensagem nas redes sociais, "foram abordados um variado número de problemas humanitários e o fornecimento de uma assistência em termos de direitos humanos aos cidadãos dos dois países".

"A ajuda humanitária aos cidadãos" ucranianos e russos foi abordada, confirmou Moskalkova.

Erdogan tem mantido contactos regulares com o Presidente russo Vladimir Putin desde o início da ofensiva russa na Ucrânia em fevereiro de 2022.

Apesar de fornecer armamento a Kiev, o Governo turco tem sugerido a sua mediação aos dois beligerantes.

Membro da NATO, a Turquia decidiu não aplicar as sanções ocidentais contra a Rússia.

Para além da sua intervenção favorável à troca de prisioneiros entre os dois países em conflito, Erdogan também facilitou a conclusão em julho, sob a égide da ONU, de um acordo que permite a exportação de cereais ucranianos através do mar Negro e do estreito do Bósforo.

Desta forma, e apesar da guerra, mais de 16 milhões de toneladas de produtos alimentares foram expedidos a partir dos portos ucranianos.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou até agora a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,9 milhões para países europeus --, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia -- foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.952 civis mortos e 11.144 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.