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Centenas de manifestantes voltaram a invadir parlamento do Iraque

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Centenas de apoiantes do clérigo xiita Muqtada al-Sadr invadiram ontem o Parlamento iraquiano contra o candidato a primeiro-ministro da Aliança Xiita para a Coordenação, Mohamed Shia al-Sudani, leal ao Irão, numa ação criticada dentro e fora do país.

O novo assalto surge no meio de protestos em massa convocados pela liderança do clérigo, que começaram hoje cedo com milhares de manifestantes a ocupar a Praça Tahrir central de Bagdad, onde cantavam slogans contra a influência do Irão na política, contra a corrupção e contra a candidatura de Al Sudani.

Os apoiantes de al-Sadr cercaram a Zona Verde fortificada, o local da maioria dos edifícios governamentais e embaixadas estrangeiras, e entraram depois de terem demolido os blocos de betão que a protegiam, disse uma fonte de segurança à agência Efe, sob a condição de anonimato.

As forças de segurança utilizaram canhões de água e gás lacrimogéneo para dispersar a multidão, sem sucesso, deixando cerca de 60 pessoas feridas, de acordo com a agência noticiosa INA.

Face à agitação, o primeiro-ministro interino do Iraque, Mustafa al-Kazemi, apelou aos manifestantes para agirem pacificamente e exortou as forças armadas a protegerem os participantes, bem como os edifícios do governo e as delegações estrangeiras, de acordo com uma declaração do seu gabinete.

Por seu lado, a missão da ONU no Iraque advertiu hoje que a escalada de tensão no Iraque, resultante deste assalto ao Parlamento, é "profundamente preocupante" e apelou à "razão" para "evitar mais violência".

"A escalada em curso é profundamente preocupante. As vozes da razão e da sabedoria são essenciais para evitar mais violência. Encorajamos todos os intervenientes a invertê-la, no interesse de todos os iraquianos", disse a missão da ONU, sem se referir explicitamente ao ataque.

Segundo o Ministério da Saúde iraquiano, pelo menos 125 manifestantes e 25 membros das forças de segurança foram feridos durante os protestos, que começaram esta manhã no centro de Bagdade e se dirigiram para a Zona Verde fortificada, uma área que alberga a maioria das sedes do governo e embaixadas estrangeiras.

Após o assalto, o Presidente Mohamed al-Halbusi, um aliado político do clérigo, apelou aos manifestantes para "manter a paz" e exortou as forças de segurança "a não atacar" os apoiantes do al-Sadr e "a não usar armas", de acordo com uma declaração do seu gabinete.

Também o Quadro de Coordenação condenou uma vez mais a ação dos apoiantes do seu principal rival político, que responsabilizou pela escalada da tensão no Iraque, que se encontra num grave impasse institucional há mais de nove meses, desde as eleições parlamentares de 2021, ganhas por al-Sadr.

Numa declaração, apelou "às multidões do povo iraquiano que acreditam na lei e na Constituição e se manifestem pacificamente em defesa do Estado (...) e enfrentem esta perigosa transgressão da legalidade" iniciada, de acordo com a Aliança, pelo clérigo.

Os manifestantes já tinham invadido o Parlamento na quarta-feira pelas mesmas razões, mas retiraram-se do edifício depois de al-Sadr ter feito um apelo.

A tensão política no Iraque aumentou em junho quando o Bloco Sadrista, que ganhou as eleições com 73 assentos, saiu do Parlamento face a um impasse sobre o Quadro de Coordenação para eleger um presidente e formar um Governo.

No entanto, a demissão de al-Sadr não significou que este tenha deixado de influenciar o poder e, desde então, tem apelado a várias marchas de massas para exercer pressão e mostrar a sua força nas ruas.