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Mota Pinto considera que Montenegro "pode trazer dinâmica de combate político"

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Foto Filipe Amorim / Global Imagens

O líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, considerou hoje que o presidente eleito, Luís Montenegro, "pode trazer uma dinâmica de combate político" que favoreça o partido, assegurando que tudo fará nesse sentido.

Num almoço-debate do International Club of Portugal, em Lisboa, com o tema "Os grandes desafios de Portugal", Mota Pinto foi questionado por um dos participantes porque é que nunca tinha admitido ser líder do PSD.

O líder parlamentar começou por classificar como "descabidas, deslocadas e até um pouco deselegantes" quaisquer especulações sobre a presidência do PSD, já que o partido teve eleições diretas no sábado.

"Nós temos um presidente eleito e que eu acho que pode trazer uma dinâmica de combate político, que espero favoreça e farei todo o possível para que possa favorecer o PSD", afirmou.

Ainda assim, o líder do PSD invocou a sua experiência pessoal -- o pai Carlos Mota Pinto foi líder do PSD e primeiro-ministro -- para salientar os "custos pessoais" que esses cargos trazem.

"Não é algo que esteja nos meus planos, nem nunca esteve", afirmou.

Na sua intervenção, Paulo Mota Pinto apontou cinco áreas "em que Portugal enfrenta desafios importantes e em que são necessárias reformas": saúde, justiça, demografia, sistema político e, como desafio central, o crescimento económico.

Na área da justiça, o líder da bancada social-democrata considerou os últimos anos de governação socialista como "uma legislatura perdida" e deixou um elogio inesperado ao antigo primeiro-ministro José Sócrates.

"Lamento dizer isto, mas este Governo e este primeiro-ministro são os menos reformistas e os mais conservadores desde o 25 de Abril. O engenheiro Sócrates, com todos os defeitos que tinha, era mais reformista e mostrava mais vontade de atacar alguns interesses instalados do que o atual primeiro-ministro", afirmou.

Na saúde, Mota Pinto considerou ser necessário "abandonar os preconceitos ideológicos" e fazer "uma avaliação custo-benefício" de quem presta os melhores serviços em cada caso, se o setor público ou o privado.

Quanto ao crescimento económico, Mota Pinto desafiou o primeiro-ministro a não dizer apenas que "a história explica" que Portugal esteja a ser ultrapassado nos últimos anos por vários países da zona euro.

"Isto não pode ser um álibi, não há aqui nenhum fatalismo histórico (...) Penso que o problema fundamental foi não prosseguirmos as políticas corretas", considerou.

Sobre o sistema político, Mota Pinto defendeu ser necessário "um debate amplo" entre PSD e PS e considerou o resultado das legislativas de 30 de janeiro "a maioria mais acidental que houve em Portugal", aproveitando para deixar algumas críticas aos anúncios de diálogo por parte dos socialistas.

"A prática não tem sido assim: negociar o Orçamento apenas com PAN, Livre e os deputados do PSD-Madeira (...) não é uma prática muito sã e contradiz a disponibilidade para o diálogo", afirmou.

Dizendo não querer normalizar o Chega, Mota Pinto considerou que o crescimento da extrema-direita nos últimos tempos em Portugal se deveu a alguma "correção" histórica do sistema político, que "estava enviesado para a esquerda".

"Tínhamos extrema-esquerda e não tínhamos extrema-direita, na minha opinião ambas igualmente bastante censuráveis e não normalizáveis", disse.

O líder parlamentar do PSD salientou que o partido tinha pronto um projeto de revisão da lei eleitoral -- que poderá ser rapidamente entregue no parlamento caso essa seja "uma prioridade política" da nova direção -- que passava pela redução dos atuais círculos eleitorais e pela limitação de mandatos dos deputados.

"Será que temos força, será que temos vontade de atacar estes problemas? Sinceramente, não vejo muita da parte da atual maioria absoluta. Da minha parte e enquanto tiver alguma responsabilidade, o PSD não deixará de o fazer", assegurou.

No sábado, quando foi eleito presidente do PSD, Luís Montenegro disse que se reuniria esta semana com o presidente da bancada, mas, por enquanto, não há notícia pública de que esse encontro já tenha acontecido.

Marcaram presença no almoço vários deputados, entre eles quase toda a direção da bancada: os 'vices' André Coelho Lima, Paula Cardoso, Paulo Rios de Oliveira, Catarina Rocha Ferreira e Fátima Ramos e os secretários Hugo Carneiro e Sofia Matos.

Os deputados Joaquim Sarmento, Nuno Carvalho, Carlos Eduardo Reis, Cláudia André ou Tiago Moreira de Sá, o antigo líder do CDS-PP José Ribeiro e Castro, o antigo ministro democrata-cristão Mota Soares, o antigo ministro das Finanças Eduardo Catroga e o ex-presidente do AICEP Pedro Reis foram outras das presenças no almoço.