O Chega e a “Democracia em queda”

Em recente carta neste diário teceram-se diversos considerandos anti-democráticos, quiçá para melhor justificar o apoio ao Chega de André Ventura que vai dando mostras da sua “democracia” ao correr com quem se lhe opõe dentro do partido, ao alterar os respetivos estatutos à medida da sua ambição e tiques ditatoriais e que por isso mesmo levou chumbo no TC, já para não falar da sua predileção por citações e saudações próprias de ditadores no decorrer das suas intervenções partidárias. Está-se mesmo a ver que para salvar a “democracia em queda” só o Chega e os seus correligionários. “Vivemos uma democracia da treta”; “Hoje, ao contestarmos este tipo de democracia com os privilegiados do regime eles defendem-se com a liberdade, que antigamente não havia e hoje há”, são afirmações de quem se revê num regime político totalitário e despreza a democracia. A defesa da democracia e da liberdade “que antigamente não havia e hoje há” é um imperativo, não dos privilegiados de qualquer regime político e ainda menos dos prosélitos dos regimes totalitários, mas de todos os portugueses democratas que não querem que um qualquer aprendiz de oligarca cerceie a atual e genuína liberdade democrática que lhes foi devolvida pelo golpe militar de 25 de Abril de 1974 e da qual estiveram privados durante 40 anos de ditadura salazarista. “Grande parte desta liberdade o povo sério, íntegro, que vive do seu trabalho honesto – e que representa a maioria neste País – dispensa, não quer, está farto dela” expressa o pensamento de quem acha que repressão, perseguições e prisões arbitrárias próprias dos regimes totalitários sejam a parte da “liberdade” de que o tal “povo sério e honesto” se queixa de não ter atualmente. Um regime democrático reflete as qualidades e os defeitos não só dos eleitos mas também dos eleitores, mas nem a democracia nem a liberdade são passíveis de crítica, antes os inimigos que delas se aproveitam para tentar destruí-las.

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