Vê-se, ouve-se e...

Vem aí o Natal.

De repente, gostamos todos muito dos outros. Damos esmolas aos pobrezinhos, presentes às criancinhas carenciadas, visitamos enfermos, levamos cabazes aos velhinhos desprotegidos, mas fazemo-nos sempre acompanhar da nossa máquina fotográfica. Para que todos vejam como é grande a nossa solidariedade.

A natureza humana pouco mudou, decorridos que são dois milénios. Precisamos ser mais sensatos, menos consumistas, mais conservadores, menos folclóricos e exibicionistas. Porque, passado o lapso do consumo desenfreado das celebrações natalícias, volta tudo ao mesmo.

Todos os grandes gestos, quando não são sustentados por atitudes nobres, esgotam-se na mediocridade. Não passam de propósitos tão nulos e vazios como as duas metades do mesmo zero.

A pobreza que estende a mão e procura desesperada por ajuda vive por todo o lado, bem próximo de nós. Todos os dias do ano e não aparece só nas vésperas de Natal. Não precisam só de "pão" para a boca. Têm fome e sede de afectos os pais, órfãos de filhos vivos, os irmãos desavindos por motivos fúteis, as famílias desfeitas, os velhinhos negligenciados nos lares, os marginalizados... durante os 365 dias de cada ano.

Há cada vez mais pobres, mais sem tecto, mais consumo de estupefacientes, mais delinquência, mais criminalidade, mais mortes prematuras (suicídios), mais jovens sem sonhos... E, como sociedade, não podemos permitir que os jovens não sonhem.

Negar a realidade não ajuda a manter a saúde mental, nem contribui para a resolução dos problemas. E eles estão aí, bem visíveis, bem próximos, oriundos de todos os extratos sociais, assumindo contornos consideráveis. Tentar escamotear, desvalorizar e, tendencialmente, banalizar pela frequência e multiplicidade com que aparecem, não os fará desaparecer.

É preciso que todos tenhamos consciência e percebamos que serão sempre os mais fragilizados (a maioria), os mais sofredores. "Em tempos de crise a maioria chora e só alguns vendem lenços."

Não lavemos as mãos como Pilatos, porque um dia poderá bater à nossa porta.

Ainda que a verdadeira essência do Natal esteja um pouco arredada dos nossos dias, ainda assim, que o NATAL, chegue a todos.

“A falta de amor é a maior de todas as pobrezas”.
(Madre Teresa de Calcutá)

Madalena Castro