Mundo

Washington rejeita excluir adesão de Kiev à NATO na resposta a Moscovo

Foto DR
Foto DR

Os Estados Unidos rejeitaram hoje excluir uma adesão da Ucrânia à NATO, como exigiu a Rússia, mas propuseram o que consideram uma "via diplomática séria" para sair da crise, na sua resposta escrita às exigências de Moscovo.

A carta hoje enviada à Rússia oferece "uma via diplomática séria, se a Rússia desejar", disse o chefe da diplomacia norte-americana, Antony Blinken, declarando-se disposto a falar com o seu homólogo russo, Sergei Lavrov, "nos próximos dias".

"Deixámos claro que estamos determinados a manter e a defender a soberania e a integridade territorial da Ucrânia e o direito dos Estados a escolherem os seus próprios dispositivos de segurança e as suas alianças", afirmou o secretário de Estado norte-americano à imprensa.

Blinken indicou que a resposta dos Estados Unidos não será tornada pública "porque os Estados Unidos pensam que a diplomacia tem melhores hipóteses de êxito", mas divulgou alguns pontos.

"Sem entrar nos pormenores do documento, posso dizer-vos que ele reitera o que Washington publicamente afirma há semanas e, de alguma forma, há muitos anos: que defendemos o princípio da porta aberta na NATO", precisou.

"Falamos sobre a possibilidade de medidas de transparência recíprocas no que respeita às nossas posições militares, bem como de medidas para aumentar a confiança no que se refere aos exercícios militares e às manobras na Europa", acrescentou.

No documento, elaborado em coordenação com Kiev e os europeus, Washington propõe igualmente relançar as negociações com a Rússia sobre o controlo de armamentos, em particular sobre a questão dos mísseis estratégicos e das armas nucleares estacionadas na Europa.

Esta resposta escrita muito aguardada, enviada pelo embaixador norte-americano ao Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, surge num contexto de tensões extremas na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia, onde Washington afirmou esperar um possível ataque das forças russas até meados de fevereiro.

"Tudo indica" que o Presidente russo, Vladimir Putin, "vai fazer uso da força militar em determinada altura, talvez entre agora e meados de fevereiro", declarou a vice-secretária de Estado norte-americana Wendy Sherman.

Sherman sublinhou, contudo, que a abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim, a 04 de fevereiro, à qual assistirá o líder do Kremlin, poderá ter influência "no seu calendário", para evitar ofender o Presidente chinês, Xi Jinping, durante esse grande acontecimento para a China.

As tensões não pararam de aumentar nos últimos meses, sendo Moscovo acusado pelo Ocidente de ter destacado mais de 100.000 soldados e equipamento militar para a fronteira com a Ucrânia, com vista a uma potencial ofensiva.

Por seu lado, a Rússia exigiu garantias da sua segurança, entre as quais um compromisso escrito sobre o não-alargamento da NATO à Ucrânia e à Geórgia e uma retirada das forças e de armamento da Aliança Atlântica dos países da Europa de Leste que aderiram à organização após 1997, e, depois de terem enviado projetos de tratados nesse sentido ao Ocidente, aguardavam uma resposta escrita.

Na sua resposta escrita enviada hoje à tarde a Moscovo, o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, reiterou hoje o seu pedido à Rússia para "parar imediatamente" com a escalada na fronteira ucraniana, vincando ainda acreditar no diálogo.

"Com mais de 100 mil soldados em posição e mais a caminho, incluindo destacamentos significativos na Bielorrússia, apelamos mais uma vez à Rússia para parar de imediato com a escalada" na fronteira ucraniana, declarou Jens Stoltenberg, falando em conferência de imprensa em Bruxelas.

Vincando que esta é uma "altura sensível" na região, devido às posições de Moscovo, o secretário-geral da organização disse ainda "acreditar firmemente que as tensões e os desacordos devem ser resolvidos através do diálogo e da diplomacia, não através da força ou da ameaça da força", razão pela qual enviou hoje propostas escritas à Rússia.

Entre as exigências da NATO, concertadas com as dos Estados Unidos, está a de "restabelecer o diálogo através dos respetivos escritórios em Moscovo e em Bruxelas", bem como a de "reforçar os princípios da segurança europeia", prevendo o "direito de cada nação a escolher os seus próprios acordos de segurança". Pede-se igualmente que a Rússia se abstenha de "posturas coercivas, retórica agressiva e atividades malignas".

A Aliança exige ainda à Rússia "uma conversa séria sobre o controlo de armas, incluindo armas nucleares e mísseis terrestres de médio e curto alcance" e "transparência militar".

"A NATO é uma aliança de defesa e não procuramos o confronto", assinalou Jens Stoltenberg.

Paralelamente, negociadores russos, ucranianos, franceses e alemães reuniram-se hoje em Paris para tentar reduzir as tensões entre Moscovo e Kiev no chamado formato "Normandia". As conversações terminaram ao fim da tarde.

"É muito encorajador que os russos tenham aceitado regressar a este formato diplomático, o único em que os russos são participantes", afirmou a Presidência francesa, considerando que tal dará uma "indicação clara sobre o estado de espírito" do Kremlin antes do encontro previsto para sexta-feira entre o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

Os Estados Unidos colocaram na segunda-feira em alerta cerca de 8.500 militares, que poderão reforçar a Força de Reação Rápida da NATO, de 40.000 homens. A decisão de os enviar não foi, no entanto, ainda tomada.

A Aliança Atlântica, por seu lado, anunciou a colocação de forças em alerta e o envio de navios e de aviões de combate para reforçar as suas defesas na Europa de Leste.

O chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, prometeu "medidas de retaliação necessárias" se o Ocidente prosseguir esta "via beligerante", condenando uma "histeria" ocidental quanto à alegada iminência de uma intervenção militar russa na Ucrânia.

Por sua vez, Kiev considerou ainda insuficiente o número de soldados russos concentrados na fronteira para um ataque em grande escala.