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Marcelo, Ferro e Costa juntos na apresentação da colecção 'Obras de Mário Soares'

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Foto Reuters

O chefe de Estado, o presidente da Assembleia da República e o primeiro-ministro vão estar juntos, na próxima segunda-feira, no lançamento da coleção "Obras de Mário Soares", que é coordenada pelo escritor José Manuel dos Santos.

A sessão de apresentação desta coleção lançada pela Imprensa Nacional Casa da Moeda (INCM), com a publicação de um volume zero sobre "As ideias políticas e sociais de Teófilo Braga", decorrerá na Fundação Calouste Gulbenkian, a partir das 18:00, tendo já presenças confirmadas de Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues e António Costa.

O livro "As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga com notas de leitura de António Sérgio e cartas sobre a obra" inaugura a coleção "Obras de Mário Soares".

José Manuel dos Santos, colaborador direto ao longo de várias décadas e membro do chamado "núcleo duro" de Mário Soares, como secretário-geral do PS, primeiro-ministro ou Presidente da República, define da seguinte forma esta coleção: "Estas Obras de Mário Soares são as de um político que queria ser escritor - e que foi escritor ao ter sido político. Para ele, a escrita e a política eram duas formas de fazer o mundo. Sem uma, a outra não era ela. Com as duas, cada uma era ainda mais do que era".

A coleção "Obras de Mário Soares" tem uma comissão científica da qual fazem parte vários historiadores e académicos, casos de António Reis, Bernardo Futscher Pereira, David Castaño, Fernando Rosas, Irene Flunser Pimentel, José Manuel dos Santos, José Pacheco Pereira, Maria Fernanda Rollo, Maria Inácia Rezola, Mário Mesquita e Nuno Severiano Teixeira.

No volume zero, que será apresentado na próxima segunda-feira, é dada a conhecer a primeira tese de licenciatura de Mário Soares, que originou o seu primeiro livro, editado em 1950, com prefácio do historiador Vitorino Magalhães Godinho.

"Depois de As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, será lançado ainda este ano uma edição crítica de Portugal Amordaçado, um dos mais importantes testemunhos de luta contra o regime de Salazar, publicado, em 1972, em Paris, sob o título Portugal Bailloné - Un Témoignage, incluindo a extensa correspondência inédita que Mário Soares recebeu e enviou sobre este livro. O volume contará com um vasto aparato crítico e também com um estudo inédito do historiador Fernando Rosas", adianta a Imprensa Nacional.

No ensaio em que apresenta a coleção "Obras de Mário Soares", intitulado "as duas asas do voo", José Manuel dos Santos refere que o fundador e primeiro líder do PS escreveu "em todos os tempos da sua vida, combatendo na resistência à ditadura ou lutando pela consistência da democracia, na solidão ou na multidão, nas prisões ou nos palácios, na oposição ou o poder".

"Escreveu a quente ou a frio, como costumava dizer, milhares de páginas: Para convencer, contestar, vencer, argumentar, denunciar, acusar, expor, exigir, impugnar, demonstrar, provar, pensar, defender, perguntar, responder, transmitir, comunicar", sustenta.

José Manuel dos Santos assinala depois que o antigo Presidente da República "escreveu livros, artigos de jornal, discursos, relatórios, programas, processos, teses, cartas, notas, apontamentos, comentários, manifestos, moções, diários".

"Escreveu crónicas, ensaios, biografias, recensões, poemas, ficções, verbetes para dicionários. Escreveu sobre pessoas, acontecimentos, ideias, viagens, causas, realidades, utopias, sobre Portugal, a Península Ibérica, a Europa, o Brasil, África, o mundo. Escreveu sobre o passado, o presente e o futuro, sobre ele e os outros, sobre o que testemunhou e o que outros testemunharam", aponta.

Ainda de acordo com o coordenador desta coleção, Mário Soares "escreveu sobre o particular e o geral, o singular e o comum, o individual e o coletivo".

"Escreveu sobre política, história, filosofia, direito, literatura, arte. Para ele, escrever era pôr a escrita em dia, passar a vida a limpo, ter a casa em ordem, prestar contas, registar para memória futura. A escrita era-lhe o esclarecimento da ação, a pedagogia da política, a comunicação do eu, a eternização do instante", defende José Manuel dos Santos no seu ensaio.

Desta investigação mais aprofundada à extensa série fontes escritas deixadas pelo antigo Presidente da República entre 1986 e 1996, José Manuel dos Santos considera que se conclui que Soares "não era unicamente o homem sem medo, cuja coragem desassombrada chegava a parecer temeridade ou desaforo".

"Compreende-se que não era exclusivamente o governante pragmático capaz de não fazer o que estavam à espera que fizesse para fazer o que era preciso ser feito. Descobre-se como era muito mais disciplinado, organizado, informado, conhecedor, profundo, preparado, prevenido, previdente, introspetivo, eficaz, estratégico, fiel aos princípios e sobretudo aos valores, do que o retrato que os lugares-comuns fazem dele", acrescenta o coordenador desta coleção.