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TAPar os olhos

Manda o otimismo e a fé nas leis do mercado livre e da sã concorrência, que a entrada na linha área entre a Madeira e o Continente por parte da Ryanair, configure um horizonte de esperança. A (perdoem-me a expressão popular) “pouca vergonha” dos preços nas ligações aéreas entre a Madeira e o Continente tem de ter um fim. E o problema tem, a meu ver, três origens distintas.

A origem económica: a Madeira, mesmo com os turistas que recebe, não tem escala que lhe permita ambicionar a ter várias companhias com voos regulares para a Região, por isso um mercado fortemente concorrencial está fora de hipótese. Isto permite que, por exemplo, as companhias EasyJet e a TAP façam os preços que quiserem com algum à vontade. Sendo que a primeira é privada e “vai a jogo” conforme desejar, a segunda tem responsabilidades por ser companhia de bandeira e ter capitais públicos (pagos, portanto, com os nossos impostos). Ninguém quer uma TAP falida, mas basta olhar para os preços médios que a companhia faz para a Madeira em comparação com os preços que pratica para outros destinos europeus e estamos conversados. A linha Funchal/Lisboa é altamente rentável para a companhia.

A origem política: se a TAP tem uma base suficientemente ampla de capital público tem por isso deveres para com os cidadãos nacionais. O transporte regular de ilhéus para o Continente e de continentais e turistas para as ilhas deve ser uma preocupação constante do Estado, plasmada nos preços que a companhia de bandeira nacional pratica. Mas isso, todos o sabemos, não acontece. Não gosto de olhar para o problema da TAP a partir dos Governos, ou dos partidos. O problema é cultural e deve ser atacado pela raiz. Portugal pode ser pensado e governado a partir de qualquer região do território, mas deve ser planeado como um país uno, coeso e onde a descontinuidade territorial deve ser mitigada com medias efetivas, para lá dos governos ou dos partidos que passageiramente nos governam.

A origem estratégica: o transporte aéreo, marítimo e das telecomunicações são temas da maior relevância para vida dos madeirenses e açorianos. Devem estar presentes na centralidade do pensamento estratégico de qualquer organização. E estes temas devem preocupar não apenas as instituições públicas e privadas, mas os cidadãos, todos nós. O país é nosso.