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Vacinação em tempos de COVID19

As vacinas tiveram o seu início no século XVIII, quando o hoje denominado “pai da imunologia”, o naturalista e médico Edward Jenner (1749-1823) descobriu a vacina contra a varíola. O objetivo não era curar, mas evitar que as pessoas fossem infetadas por uma doença que as levava à morte. Entrava-se assim numa nova era onde a medicina se tornava também preventiva. Passam-se, entretanto, uns largos anos e Louis Pasteur (1822-1895) descobre a vacina antirrábica, abrindo-se assim definitivamente a via para a produção de muitas vacinas que se seguiram, sendo evidente a importância e eficácia que as mesmas tiveram, ao revolucionarem o enfrentar de doenças até aí incuráveis e fatais. Com exceção de pequenas bolsas, a maior parte delas ligadas a um modo vida dito “naturalista”, a abordagem quanto à necessidade e eficácia das vacinas foi sempre de um consenso assinalável. Mas eis que chegamos ao famigerado ano de 2019 e surge no mundo um novo vírus, em relação ao qual ainda hoje se especula a sua origem, tendo-lhe sido atribuído pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o nome de COVID19. CO de corona, VI de vírus, D de doença e 19 de 2019, correspondente ao ano do seu aparecimento. A tentativa de criação de vacinas contra este novo vírus foi imediata e em pouco tempo surgiam no mercado. O curto espaço de tempo para o seu aparecimento, (cerca de seis meses) criou desconfiança nas pessoas, pois é demais evidente que vivemos num mundo onde a promoção de uma atitude compassiva não é a prática difundida. Infelizmente, há muito que o “deus capital” tomou conta das rédeas do mundo, enfraquecendo de forma eficaz, um ideal de fraternidade cuja crescente fragilização é notória. Para ajudar o adensar da desconfiança, temos um corrupio de especialistas de aviário que diariamente debitam na comunicação social um género de “doxa” dos dias de hoje e nessa medida há “opinadeiros” que dizem que sim, outros que dizem que não e outros ainda, ficam no talvez. Já sobre o modo como as opiniões circulam nas chamadas redes sociais, é uma autêntica caldeirada onde todos encontram acolhimento para a sua “doxa”, seja ela fiável ou não. Importa assim refletir sobre a narrativa relacionada com a vacinação que quer combater o COVID19, e começar por dizer que comunicacionalmente, tanto a nível nacional, como a nível regional, as autoridades de saúde continuam a exibir alguma impreparação. Basta observarmos com retroatividade a informação que foi sendo transmitida, em que tivemos garantias que vão desde a imunidade de grupo que afinal já não é uma certeza, em que tivemos a dose única da “Janssen” que afinal já não é única porque as pessoas a quem foi administrada, são hoje “aconselhadas” a levar um reforço de qualquer outra vacina das ministradas, e em relação a outras “marcas”, a recomendação é levar uma terceira dose de reforço. No entanto, verifica-se que tanto vacinados como não vacinados podem ficar infetados e transmitir o vírus. O argumento é de que os vacinados estão protegidos contra doença grave, sendo a testagem massiva da população, uma forma de tentar evitar a falta de eficácia total da vacinação. Por fim uma cogitação que circula é: de todo o historial de vacinas que a humanidade conheceu até aos dias de hoje, nunca se viu uma vacina cuja fragilização fosse tão rápida e a sua resposta tivesse resultados tão ambíguos. É certo que o tema é muito complexo, o conhecimento real sobre a dinâmica do vírus é muito pequeno e as intenções governamentais são evidentemente boas. E confesso desde já que não gostaria de estar no lugar daqueles que hoje têm de tomar decisões sobre este delicado assunto, mas aconselharia humildade e prudência e até me permitiria propor, que uma medida a adotar no combate ao COVID19, seria, temporariamente, proibir a venda de álcool em qualquer estabelecimento na Região Autónoma da Madeira (RAM). Estou certo que seria um enorme revés para este vírus. Todos sabemos que o álcool “relaxa” e invariavelmente, nessas circunstâncias, as pessoas têm tendência a “esquecer” o perigo que podem constituir, assim como dos perigos de que podem estar rodeadas. Já quanto ao enquadramento legal das medidas que vão sendo adotadas, como referiu e muito bem o professor de direito constitucional, Bacelar Gouveia num recente programa “Interesse Público” da RTP Madeira, os políticos já tiveram tempo suficiente para alinhar a constituição às exigências do momento atual. É que quando os políticos em exercício se permitem atropelar a carta magna da república, é lícito que os cidadãos com memória, isto é, conhecimento histórico, manifestem a sua preocupação. Por último uma declaração de interesses: Estou vacinado “contra” a COVID19, mas não estou anestesiado.