Procura-se oposição
O rescaldo das autárquicas na RAM saldaram-se pelo averbamento de mais uma derrota na caderneta de cromos de toda a oposição regional.
A começar logo pelo PS-Madeira que deixou escapar o Funchal, ícone da ascensão meteórica de Paulo Cafôfo que embebedou os socialistas e fundiu os bloquistas na mescla de interesses intestinos, que desde 2013 coabitavam os sedosos lençóis do leito comum do poder da capital. Levaram uma “lavagem” que só pecou por tardia e que reclamará por uns quantos bidões de “desinfetante”. Ao observar a hecatombe, tal como ocorre aos ratos nas narrativas de naufrágios, Cafôfo abeirou-se do bordo, e, com uma bigorna moral atada ao pescoço, engendrou um falso salto desde o condenado navio, contrariando a comum deontologia do comandante, que normalmente é sempre o último a abandonar. Ora, sucede que à medida que o tempo passava o abandono não se concretizou e aí (como normalmente sucede aos políticos e sabonetes), a escorregadela semântica aloja-se sempre do lado do receptor, e não do lado de quem profere as frases que lacrimejam. Ou seja, todos nós, é que percebemos mal aquelas palavras emotivas. Afinal a renúncia era afinal uma suspensão, até porque, afirmou, «não há pressa». António José Seguro em 2013 também dizia, «mas, qual é a pressa?». A estratégia está lá toda. Um pé em cima de cada pedra numa assinalável amplitude que vai de Campanário ao Funchal, pois as “barrigas-de-aluguer” podem vir a disponibilizar-se a qualquer momento, e uma segunda gestação está potencialmente mais facilitada.
A lamber as feridas da derrota estão também os pequenos partidos que, igualmente numa manobra semântica atiram o cenário de bipolarização, ou a gestão regional da pandemia como justificação do desastre que averbaram, nomeadamente a extrema-esquerda que em todo o país reduz cada vez mais a sua expressão eleitoral, num evidente desencontro com as pessoas e a realidade.
Há alguma expectativa quanto ao futuro da capital da RAM. Devo afirmar que, nem que o saldo me permitisse, não sou de passar cheques em branco, contudo reconheço competência, experiência e saber, que não sendo uma exclusividade de alguém em particular, por várias razões tranquiliza-me, pois, já dei no passado o meu humilde contributo para o ofertório da novidade e do benefício da dúvida, que se saldou em oito anos de atraso da minha cidade, de que ainda hoje me penitencio.
É reconhecido que para um funcionamento pleno da democracia, é necessária uma oposição forte, mas também com autonomia, madura e com ideais próprios, sem ser correia de transmissão das estruturas nacionais como se fosse uma delegação colonial dos interesses da ex-capital do Império. O PS-Madeira para além sintetizar a falta desses ideais, foi também autofágico e profundamente anti-autonomista, o que para ter aspirações de efetiva alternância democrática, diria, que é muito “poucochinho” …